Blog criado pela acadêmica Elzamir Ferreira - Curso de História da PUC-RS.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
El único "Exilio" que vacaciona con suas per seguidores...
Um novo Post "El único “exilio” que vacaciona con sus perseguidores" foi escrito em 25 de junho de 2012 às 14:00 no "Página 13".
*José Manzaneda* [1]*
_ “Exiliados” o “refugiados” son términos que los medios
emplean para denominar a quienes emigran de_ *_Cuba_* _a_ *_EEUU_*.
Pero, ¿es correcto su empleo cuando raramente se aplican a la
emigración de otros países de la zona?Leia mais [2]
Links:
------
[1] http://lapupilainsomne.wordpress.com/category/autores/jose-manzaneda/
[2] http://pagina13.org.br/http://pagina13.org.br/2012/06/el-unico-exilio-que-vacaciona-con-sus-perseguidores/
http://pagina13.org.br/2012/06/el-unico-exilio-que-vacaciona-con-sus-perseguidores/
quarta-feira, 20 de junho de 2012
A Presidente Dilma e Ban Ki-moon na abertura da Rio +20
Dilma Roussef assume presidência da Rio+20 confiante
Dilma e Ban Ki-moon na abertura da reunião de cúpula da Rio 20 (Agência Brasil)
Rio de Janeiro – Ao assumir esta quarta-feira (20) a presidência da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a Rio+20, a presidenta Dilma Rousseff reconheceu que há desafios a enfrentar, mas disse que o Brasil e o mundo têm condições de vencer as dificuldades e promover o desenvolvimento sustentável.
Leia também:
Ban ki-moon inaugura Rio+20 com foco na economia verde
“O compromisso é complexo e urgente da agenda do desenvolvimento sustentável. Não tenho dúvidas de que estamos à altura dos desafios que nos impõem”, disse.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, reiterou ainda que é necessário confiar e fazer um esforço conjunto para implementação do documento final que será anunciado no encerramento da reunião de cúpula (22).
Segundo ele, é necessário “lutar contra o relógio” para construir um planeta sustentável. “estamos diante de um acordo histórico. A Rio+20 não é o fim, é o começo”, disse.
A abertura oficial da conferência está marcada para as 16h, com discursos de Dilma e Ki-moon. Outros líderes presentes no evento, como François Hollande (França) e Fernando Lugo (Paraguai), também poderão discursar por cinco minutos.
Dilma Roussef assume presidência da Rio+20 confiante
A presidente Dilma Rousseff foi escolhida pelos chefes de Estado e governo presentes a Rio+20 para presidir a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável nesta quarta-feira, 20. Aos representantes da reunião, a presidente se disse certa de que a Rio+20 atingirá os objetivos a que se propõe.
A conferência foi oficialmente aberta pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, logo depois de ser exibido um vídeo mostrando a atual situação ambiental do planeta. O líder das Nações Unidas, então, disse haver consenso entre as delegações presentes de que Dilma deveria ser escolhida para presidir a conferência e que ela teria o chanceler Antonio Patriota como seu vice. Os aplausos confirmaram-na como a presidente da cúpula da Rio+20.
Em seu discurso de abertura, Dilma agradeceu a confiança depositada em si pelos chefes de Estado e governo. "A expressiva liderança mundial que hoje acorre ao Rio indica o compromisso dos Estados com a complexa e urgente agenda do desenvolvimento sustentável", continuou a presidente dizendo-se certa de que a Rio+20 atingirá seus objetivos.
"O compromisso é complexo e urgente da agenda do desenvolvimento sustentável. Não tenho dúvidas de que estamos à altura dos desafios que nos impõem", disse. Dilma fez apenas um breve discurso de abertura e anunciou que expressará a posição do Brasil sobre os temas debatidos na Rio+20 na sessão plenária da tarde. Inicialmente, seu discurso está previsto para as 16h.
Parte do discurso a ser feito por Dilma à tarde foi antecipado por meio de uma fonte da delegação brasileira. A presidente pedirá à lideranças internacionais, que busquem soluções de longo prazo para problemas atuais, com críticas a medidas imediatistas, sobretudo em relação à crise internacional.
Dilma ainda dirá que o mundo perdeu a capacidade de pensar a longo prazo na busca de soluções rápidas, numa referência à atual crise econômica internacional. O tom do discurso será de "olhar para o futuro", contou a fonte sob condição de anonimato.
(Estadão)
A conferência foi oficialmente aberta pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, logo depois de ser exibido um vídeo mostrando a atual situação ambiental do planeta. O líder das Nações Unidas, então, disse haver consenso entre as delegações presentes de que Dilma deveria ser escolhida para presidir a conferência e que ela teria o chanceler Antonio Patriota como seu vice. Os aplausos confirmaram-na como a presidente da cúpula da Rio+20.
Em seu discurso de abertura, Dilma agradeceu a confiança depositada em si pelos chefes de Estado e governo. "A expressiva liderança mundial que hoje acorre ao Rio indica o compromisso dos Estados com a complexa e urgente agenda do desenvolvimento sustentável", continuou a presidente dizendo-se certa de que a Rio+20 atingirá seus objetivos.
"O compromisso é complexo e urgente da agenda do desenvolvimento sustentável. Não tenho dúvidas de que estamos à altura dos desafios que nos impõem", disse. Dilma fez apenas um breve discurso de abertura e anunciou que expressará a posição do Brasil sobre os temas debatidos na Rio+20 na sessão plenária da tarde. Inicialmente, seu discurso está previsto para as 16h.
Parte do discurso a ser feito por Dilma à tarde foi antecipado por meio de uma fonte da delegação brasileira. A presidente pedirá à lideranças internacionais, que busquem soluções de longo prazo para problemas atuais, com críticas a medidas imediatistas, sobretudo em relação à crise internacional.
Dilma ainda dirá que o mundo perdeu a capacidade de pensar a longo prazo na busca de soluções rápidas, numa referência à atual crise econômica internacional. O tom do discurso será de "olhar para o futuro", contou a fonte sob condição de anonimato.
(Estadão)
'Vieram para salvar sua imagem ou nos salvar?', pergunta estudante na Rio+20
"Peço que considerem por que estão aqui: é para salvar sua imagem, ou é para nos salvar?", questionou nesta quarta-feira a estudante neozelandesa Brittany Trilford aos líderes do planeta na abertura da Cúpula Rio+20 da ONU.
"Meu nome é Brittany Trilford, tenho 17 anos e sou uma criança. Hoje, nesse momento, sou todas as crianças, uma das 3 bilhões do planeta", disse com firmeza esta blogueira neozelandesa, convidada a falar na cerimônia de abertura da cúpula, aos 86 chefes de Estado e de governo.
Brittany repetiu assim o apelo feito por Severn Suzuki na Rio-92.
"A próxima geração pede mudança, ação, para que possamos ter um futuro. Confiamos em vocês", afirmou.
"Vocês têm 72 horas para decidir o destino de nossas crianças, dos meus filhos, dos filhos dos meus filhos. O cronômetro está contando, tic, tac, tic, tac", enfatizou a jovem, dirigindo-se aos 191 governos participantes da conferência que definirá os rumos do planeta no desenvolvimento sustentável e da qual se esperam medidas para preservar o meio ambiente e lutar contra a pobreza.
Trilford, em seu último ano de estudos secundários, foi convidada para participar da conferência como uma cidadã comum, selecionada após vencer um concurso de discursos por vídeo organizado pela Campanha Global pela Ação Climática, que reúne mais de 300 ONGs.
A estudante neozelandesa Brittany Trilford fala na Rio+20
"Meu nome é Brittany Trilford, tenho 17 anos e sou uma criança. Hoje, nesse momento, sou todas as crianças, uma das 3 bilhões do planeta", disse com firmeza esta blogueira neozelandesa, convidada a falar na cerimônia de abertura da cúpula, aos 86 chefes de Estado e de governo.
Brittany repetiu assim o apelo feito por Severn Suzuki na Rio-92.
"A próxima geração pede mudança, ação, para que possamos ter um futuro. Confiamos em vocês", afirmou.
"Vocês têm 72 horas para decidir o destino de nossas crianças, dos meus filhos, dos filhos dos meus filhos. O cronômetro está contando, tic, tac, tic, tac", enfatizou a jovem, dirigindo-se aos 191 governos participantes da conferência que definirá os rumos do planeta no desenvolvimento sustentável e da qual se esperam medidas para preservar o meio ambiente e lutar contra a pobreza.
Trilford, em seu último ano de estudos secundários, foi convidada para participar da conferência como uma cidadã comum, selecionada após vencer um concurso de discursos por vídeo organizado pela Campanha Global pela Ação Climática, que reúne mais de 300 ONGs.
A estudante neozelandesa Brittany Trilford fala na Rio+20
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Escola Pública não é de graça, não!
Leiam este blog, acho que os pais iriam gostar... Os educadores também! Uma ótima reflexão para nossas realidades atuais...
http://escolapublica.zip.net/
http://escolapublica.zip.net/
Refletir o que somos...
PENSANDO A ESCOLA
"
Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se
é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-
los sentados enfileirados em salas sem ar, com
exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."
(Carlos Drummond de Andrade)
A quem serve a suspensão de alunos?
Este assunto eu encontrei em um blog, gostaria de socializar o mesmo aos demais que interessar na reflexão sobre a realidade que as Escolas se encontram e na forma como nossos alunos, pais e comunidades em diversas situações estão inseridas:
Esse é um assunto que não me canso de abordar. Afinal, o nosso interesse aqui é levantar tudo o que mantém a escola brasileira no limbo do subdesenvolvimento. Se os problemas não forem detectados, encarados e enfrentados, nada vai mudar. A mídia costuma discutir apenas a questão da qualidade do ensino, deixando de lado fenômenos extremamente graves que provocam a evasão e a exclusão de milhares de crianças e adolescentes em todo o país.
A suspensão de alunos é algo que agrada à sociedade brasileira. Mais ainda do que a suspensão, a expulsão goza de grande simpatia junto àquela parcela de cidadãos que preferem enfiar a cabeça na areia, como o avestruz, do que perceber a gravidade de atirar uma criança ou um jovem da escola para a marginalidade. A expulsão é um fenômeno contra o qual temos tido bastante êxito, pois trata-se de uma violação grave demais para passar em brancas nuvens – desde que os alunos e/ou seus pais tenham a coragem de enfrentar um tribunal de exceção e lutar contra a perseguição de certos “educadores”. Ao contrário, a suspensão de alunos, mesmo coletiva, é considerada um procedimento corriqueiro e “justo”, na suposição de que ele tenha o poder de manter a ordem e a disciplina na escola.
De nada adianta afirmar que a suspensão é ilegal, que o aluno tem o direito de acesso à sala de aula em qualquer situação e nada pode impedi-lo, seja a falta de material, de uniforme etc. A suspensão, instrumento jurássico de punição, infelizmente caiu no gosto popular. Por que será?
A quem serve a suspensão de alunos?...
Os únicos que se “beneficiam” dela são os maus profissionais da educação:
- O professor relapso, que, por exemplo, vê um cesto de lixo pegar fogo e sai tranqüilamente para dar aula em outra classe...
- O coordenador pedagógico “estressado” que costuma ralhar com o mesmo aluno toda semana e, portanto, agradece sua suspensão...
- O diretor de escola, cansado de receber esse aluno em sua sala, com queixas do professor relapso e do coordenador estressado.
A imagem do “bom” profissional da educação, no Brasil, ainda é tão antiquada quanto a idéia da necessidade da suspensão, da expulsão de alunos e da repetência, essa praga responsável pela exclusão de milhares de crianças e adolescentes. O profissional que continua no gosto popular é sisudo, autoritário, fala grosso, manda e desmanda. Em resumo, o professor, o coordenador e o diretor de escola “respeitados”, no Brasil, ainda são os que berram, suspendem, expulsam e largam o problema para outro professor, no ano seguinte. Na minha opinião, a suspensão e os demais instrumentos de punição só “servem" aos maus profissionais da educação (se é que é possível alguém conseguir se satisfazer prejudicando outra pessoa...).
CONTATO
http://educaforum.blogspot.com.br/2008/03/quem-serve-suspenso-de-alunos.
ARTIGOS DO ECA
Art. 53 - ll - A criança e o adolescente têm o direito de
serem respeitados por seus educadores.
ARTIGO 53° -
LIVRO 1
Livro I - PARTE GERAL
Título II - DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Capítulo IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER
Art. 53º A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo Único - É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
Art. 232 - É crime "submeter criança ou adolescente
sob sua autoridade a vexame ou
constrangimento"
(Detenção de seis meses a dois anos).
Art.233 - É crime "submeter criança sob sua autoridade
a tortura".
Art. 220 - Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá
provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informações sobre fatos que constituem objeto de ação civil, e indicando-lhes os elementos de convicção.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
A Cobstrução da Nacionalidade Brasileira e os Militares...
TÍTULO: Exército e Nação: A construção da nacionalidade brasileira e os militares
AUTOR: Fernanda de Santos Nascimento - fernandaisrael@gmail.com
Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em História da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bolsista CNPq, orientada pela Prof.
Dra. Janete Abrão.
Este artigo tem por objetivo analisar a obra “Exército e Nação” escrita pelo Gen. Lyra
Tavares e publicada em 1965. O autor foi general do Exército Brasileiro na década de 1960
e teve especial participação no período da ditadura militar. Sua obra, linear e histórica,
conduz o leitor não só pela história do Exército, mas também pelos meandros da
nacionalidade brasileira. Seu objetivo principal é justamente demonstrar o papel dos
militares na construção desta nacionalidade, desde o período do Brasil colônia até a
contemporaneidade, justificando em última análise o movimento de março de 1964. Para
tanto, o autor parte de duas ideias principais que irão conduzir sua narrativa: o Exército
como elemento democrático na sociedade brasileira, aglutinador e miscigenador da raça
brasileira; e o Exército como único elemento organizado em uma sociedade desorganizada.
Tais assertivas não são criação exclusiva do autor, mas fazem parte do discurso militar ao
menos desde o início do século XX. Não apenas intelectuais militares, mas também civis
reforçaram o discurso da instituição, como é o caso de Gilberto Freyre. Mas Lyra Tavares
não se aproveita apenas de um discurso já criado: ele justifica o evento de março de 1964
partindo da premissa de que a instituição militar é a garantidora da vida democrática no
Brasil. A obra é emblemática, pois é lançada antes do fechamento do regime, quando a
instituição busca a reafirmação do caráter democrático do período de exceção, bem como
de seus próprios valores.
Este é uma obra de conhecimento histórico que foi escrito pela acadêmica Fernanda sob orientação da professora Janete Abrão.
Um artigo qual tomei conhecimento e aprofundei pesquisas relacionadas aos itens citados para meu conhecimento relacionado ao estudo e reflexão de nossa história.
terça-feira, 5 de junho de 2012
Nanotecnologia Molecular e a Segurança Nacional
Nanotecnologia Molecular
e Segurança Nacional
Em raros exemplos, a tecnologia revolucionária e a inovação militar a ela associada podem alterar fundamentalmente concepções de guerra desde muito tempo bem estabelecidas. ...Algumas irrupções desorganizadoras... poderiam colocar em sério perigo nossa segurança.
Estratégia de Defesa Nacional dos Estados Unidos da América, 2005
Bases
A Nanotecnologia (NT) é a manipulação e controle da matéria na escala do nanômetro (um bilionésimo do metro)—aproximadamente o diâmetro de uma molécula pequena. De modo diferente de sua predecessora, a microtecnologia, que lida com a escala relativamente gigantesca das amebas, a nanotecnologia representa a engenharia humana em nível atômico ou molecular. Entretanto, a NT traz consigo muito mais do que apenas levar as bem conhecidas técnicas de engenharia da microtecnologia a um nível adicional de diminuição de tamanho: ela expande, de maneira imensa e abrupta, os limites do possível. A NT trabalha com os tijolos fundamentais da natureza—átomos e moléculas—permitindo um nível sem precedentes de controle da matéria e precisão na engenharia. Acontece, também, que os efeitos da física newtoniana “normal”, que presidem à experiência cotidiana dos seres humanos, e da “esquisita” física quântica, que governa os mundos do atômico e do sub-atômico, começam a sobrepor-se na escala do nanômetro. Assim, trabalhar na nanoescala permitirá que engenheiros humanos tirem vantagem, simultaneamente, dos benefícios de ambos os domínios das leis da física.Não deve surpreender que o interesse do governo e do mundo dos negócios em NT seja significativo e esteja crescendo rapidamente. A National Nanotechnology Initiative, dos Estados Unidos, que coordena os esforços do governo estadunidense em pesquisa e desenvolvimento (P&D), espera ter um orçamento superior a US$ 1 bilhão no ano fiscal de 2006, um aumento de 9 vezes em relação ao orçamento de 1997, de US$ 116 milhões.1 Este acréscimo no orçamento de P&D, porém, também ilustra o fato de que a nanotecnologia de hoje “ainda está quase toda na prancheta de desenho”.2 A Nanosciência ainda está na infância, e as características até dos materiais conhecidos e exaustivamente estudados (como os metais comuns) pode abrigar surpresas na escala do nanômetro.3 Desse modo, a despeito da introdução no mercado de novos produtos baseados em NT, o verdadeiro potencial prático da NT ainda está sendo descoberto.4
Existem algumas discordâncias na comunidade de P&D da NT a respeito do verdadeiro potencial deste campo. Uma escola defende a MNT, também chamada manufatura molecular (MM), produto da mente do Dr. K. Eric Drexler, criador do próprio termo nanotecnologia.5 A MNT é a nanotecnologia “extrema”, como engenharia tão precisa que se aproxima dos limites teóricos da natureza “por meio do controle barato da estrutura da matéria, baseado no controle molécula a molécula de produtos e subprodutos da manufatura molecular”. 6 Enquanto a corrente principal da NT concentra-se em criar componentes de pequena escala a serem incorporados a produtos maiores de um modo convencional, os produtos da MNT serão de escala humana ou maiores, construídos do princípio ao fim por processos de MNT.7 Por não ser claro o grau em que a NT perturbará a atividade humana, este artigo vai concentrar-se na MNT, a manifestação potencialmente mais perigosa.
As promessas da MNT dependem de algumas capacidades fundamentais. A primeira é a habilidade de orientar mecanicamente as reações químicas em nível molecular, que se chama mecanoquímica.8 Na MNT, a mecanoquímica será realizada por fabricadores moleculares: essecialmente, instrumentos mecânicos minúsculos controláveis capazes de “agarrar” fisicamente moléculas específicas e juntá-las em estruturas úteis.
Contudo, um único fabricador não é muito útil para construir objetos grandes, já que levaria milhares de anos para que um deles construísse um objeto suficientemente grande para ser visto a olho nu. Portanto, a segunda capacidade fundamental é a manufatura exponencial, ou capacidade de criar grande número de fabricadores que trabalhem em uníssono. Isto se realiza fazendo fabricadores construírem mais fabricadores, cujo número crescerá, assim, exponencialmente.
Note-se que os fabricadores são autoprodutores—capazes de produzirem outros fabricadores, mas só com muita ajuda de fora. Eles não se replicam—quer dizer, não criam cópias de si próprios sem ajuda externa, como as células e bactérias. Os fabricadores são assim limitados pelo seu desenho. As idéias originais da MNT visualizam o uso de robôs microscópicos livres e autosuficientes, chamados montadores, que seriam capazes de replicar-se.
Os montadores, muito mais complexos que os fabricadores, exigem não apenas seus próprios instrumentos moleculares fabricadores, mas, também, a reunião dos sistemas de propulsão, comunicações e navegação necessários a se coordenarem com outros montadores na produção de tarefas. A capacidade intrínseca de replicação dos montadores também os tornam um perigo potencial (veja-se abaixo a discussão da gosma cinza) e as teorias mais recentes da MNT concentram-se no uso dos fabricadores, como solução intrinsecamente menos complexa, mais eficiente e menos perigosa.9 A última capacidade fundamental é a montagem convergente, que capacita a massa de fabricadores a construir grandes objetos começando por peças menores, articulando essas peças menores para construir peças maiores e, em seguida, repetir o processo até que tenha sido construído um produto completo em escala humana. Segundo algumas estimativas, se o tamanho das peças dobrar a cada fase, serão necessárias apenas 30 fases para ir-se de peças cujo tamanho seja o de apenas alguns átomos até objetos de da ordem de 1 metro.10
Assim, o processo de fabricação da MNT exigirá, primeiro, a produção de pelo menos um fabricador, um sistema ambiental que leve à sua operação e um sistema de controle. Os primeiros fabricadores começarão por construir cópias de si próprios, ajudados por sistemas de alimentação e controle dirigidos de fora, aumentando exponencialmente seu número conforme o necessário. A massa final de fabricadores criará, então, tijolos moleculares progressivamente mais complexos, terminando por montá-los como o produto final desejado. Em contraste com a microtecnologia, mesmo a de última geração—que, avançada e impressionante quanto pareça, ainda lida com os átomos como “hordas descontroladas” de bilhões ou trilhões—os fabricadores moleculares permitirão (e, provavelmente, exigirão) uma engenharia molecularmente precisa, que dê conta de cada átomo ou molécula e os coloque em um lugar específico.11 Em virtude deste aumento na precisão, os materiais nanofabricados podem ser planejados para, simultaneamente, serem mais fortes, mais leves e dotados de maior número de características específicas—quer dizer, capazes de desempenhar funções múltiplas por terem menos “átomos desperdiçados”. Por exemplo, em vez de ter uma viga de aço destinada apenas ao apoio estrutural de um edifício, poderia criar-se uma viga que fosse não só mais leve e forte que a de aço, mas, também, que fosse preenchida de sensores de fadiga material ou, até, capacidade de processamento computacional. A combinação da manufatura exponencial com o uso mais eficiente da estrutura física de um produto também permitirá a rápida criação de protótipos; o prosseguimento da manufatura pode inciar-se a qualquer momento, já que o processo de montagem é o mesmo que para o protótipo.12
As aplicações possíveis da MNT são potencialmente ilimitadas. Virtualmente todos os aspectos da vida humana serão afetados. Por exemplo, robôs minúsculos poderiam ser introduzidos no corpo humano para localizar e destruir células cancerosas ou vírus, ou, até, corrigir órgãos deteriorados no nível celular, levando à extensão indefinida da duração da vida humana. Os perigos apresentados pela MNT também são quase ilimitados: a produção em massa barata e rápida permitiria corridas armamentistas espasmódicas, e materiais inteligentes aperfeiçoados poderiam aumentar em muito a capacidade atual dos sistemas de armas—ou permitir a criação de classes de armamentos inteiramente novos.
O perigo mais ventilado da MNT é, talvez, o chamado problema da gosma cinza, em que nanomáquinas replicantes essencialmente sobrepujam as formas de vida que ocorrem naturalmente na Terra. Postulado incialmente por Drexler, em seu livro Engines of Creation, publicado em 1986, o cenário da gosma cinza descreve a liberação (acidental ou proposital) de uma “bactéria” artificial resiliente e onívora que é capaz de competir com vantagem com toda a vida na Terra e que, subseqüentemente, “reduz a biosfera a pó em questão de dias”, deixando para trás apenas uma massa mundial de replicantes microscópicos: a gosma cinza.13 Desde então, o próprio Drexler tem afirmado repetidamente que tais acontecimentos têm probabilidade extremamente pequena de acontecer acidentalmente, em especial com a mudança conceitual da comunidade de MNT, o que a afasta da produção baseada em montadores, e que, de qualquer forma, a produção desses acontecimentos seria uma empresa tremendamente difícil.
Contudo, não deve ser surpresa que possibilidades dramáticas tais quais essa tenham exercido uma influência obscurecedora e um tanto histérica sobre o modo de ver do público.14 Esta percepção da MNT como “ficção científica”—acrescida à falta de um fabricador molecular que funcione—fez com que a corrente principal da comunidade nanotecnológica desqualificasse ou ignorasse a MNT. Alguns de seus detratores mais francos—inclusive o falecido prêmio nobel de química Richard Smalley—sustentaram que montadores no estilo da MNT são impossíveis e que a discussão a respeito deles prejudica o desenvolvimento da NT “verdadeira”, assustando o público e desviando a atenção e os financiamentos de pesquisas mais legítimas, com registro de resultados verificados.15
A nanotecnologia é uma
preocupação de segurança
nacional?
Se a MNT não é tecnicamente praticável, então será que ela—ou até uma nanotecnologia mais dentro da corrente principal—é uma preocupação de segurança nacional?16 Seja ou não viável uma MNT estritamente do tipo preconizado por Drexler, uma convergência de nanotecnologias na corrente principal e outras tecnologias, o que representa um menor desafio tecnológico, poderia resultar em capacidades semelhantes às da MNT, tornando necessárias sérias considerações de seus impactos potenciais na segurança nacional. Muito do debate a respeito da MNT concentra-se em que esforços de pesquisa darão frutos mais rapidamente (e, portanto, merecem mais recursos), em lugar de enfrentar a questão das capacidades finais. Considere-se, contudo, que todos os dias está acontecendo pelo mundo alguma forma de fabricação molecular. A própria natureza tem usado MM durante bilhões de anos para converter recursos baratos (lixo e água) e energia barata (energia solar) em materiais úteis para a contrução (troncos de árvores). Independentemente de que caminho se usa no desenvolvimento para chegar lá, uma tecnologia do tipo MM é evidentemente possível.Porém, ainda que a MNT ou MM se revelassem de consecução extremamente difícil ou, por alguma razão, desprovida de economicidade, a NT da corrente principal ainda seria capaz de gerar um impacto gigantesco em todos os campos que afetam a segurança nacional. Um relatório da National Science Foundation manifesta dúvidas quanto à factibilidade da MNT: “talvez seja tecnicamente impossível criarem-se robôs mecânicos replicantes em nanoescala..”. [enquanto reconhece que] “a nanotecnologia transformará de maneira fundamental a ciência, a tecnologia e a sociedade”.17 Kwan S. Kwok, Gerente de Programas da Defense Advanced Research Projects Agency, repete a opinião da fundação: “há ampla aceitação de que o impacto potencial da nanotecnologia talvez seja maior do que o de qualquer campo científico que a humanidade tenha anteriormente conhecido”.18
Finalmente, considere-se a possível tendência emergente da fabricação pessoal (PF), idéia concebida pelo Dr. Neil Gershenfeld, do Centro de Bits e Átomos (CBA), do Massachusetts Institute of Technology. Gershenfeld e seus colegas estabeleceram uma rede de laboratórios de fabricação: pequenas instalações erigidas em áreas com pouco acesso ou sem acesso a fontes normais de tecnologia, como na Índia rural. Os laboratórios da fabricação são equipados com computadores e equipamentos micromecânicos que capacitam os usuários a planejar e criar objetos de sua escolha. Até agora, os produtos incluíram placas com circuitos de computador, sensores de contrapesos de motores a diesel e, até, obras de artes—tudo isto feito por usuários com limitada experiência no uso de equipamentos high-tech.
Atualmente uma instalação de equipamento em um laboratório de fabricação custa aproximadamente US$26,000. Gershenfeld e o CBA continuam a trabalhar para melhorar as instalações de laboratórios de fabricação em termos de custos, capacidades e eficiência: “estamos nos aproximando da capacidade de construir uma máquina que possa fabricar qualquer máquina”. Gershenfeld espera que a nanotecnologia se torne, no final, base viável da fabricação de instrumentos.19 Na verdade, o paradigma da PF pode representar a mais significativa aplicação da MNT em longo prazo.
Os fabricadores pessoais baseados na MNT corporificarão a fusão definitiva das revoluções industrial e da tecnologia da informação: a capacidade de transportar dados como planos de projetos, de maneira barata e instantânea, para virtualmente qualquer lugar e, então, converter estes dados em objetos sólidos no mundo real, aproximadamente ao preço da matéria-prima e da energia. Esta idéia leva logicamente à da manufatura distribuída e não-onerosa, configurada de acordo com as necessidades da organização ou, até, do indivíduo. De modo geral, parece haver numerosas alamedas e nenhum “desmancha-prazeres” na estrada para uma capacidade desse tipo com a nanotecnologia.
Ameaças da nanotecnologia
molecular
A MNT é uma tecnologia dotada, potencialmente, de enorme poder que produzirá ameaças tanto diretas quanto indiretas à segurança dos Estados Unidos. Considerando-se os perigos potenciais, seria irresponsável não se estar preparado para a emergência da MNT.Ameaças diretas
As ameaças mais óbvias apresentadas pela MNT são as que se baseiam diretamente na aplicação da própria tecnologia como fonte tanto de melhores armamentos quanto de produção maior, mais rápida e generalizada de armas.
Corrida armamentista entre os Estados. O uso perverso intencional da MNT representará, provavelmente, a maior ameaça direta à segurança nacional. A manufatura molecular permitirá que qualquer um que tenha acesso à tecnologia crie, rápida e economicamente, armas virtualmente de qualquer descrição. Aquele que pretende produzir armas só terá que fornecer os desenhos, a energia e material básico. Se o produtor for um Estado, então a resultante inundação de equipamento militar de qualidade extremamente alta capacitará esse Estado a rápida e prontamente esmagar qualquer inimigo que não tenha equipamento de MNT.
Com a capacidade de construir rapidamente protótipos, fornecida pela MM, o período de tempo dessa construção pode ser da ordem de semanas ou meses. Em todo o mundo, poderiam surgir, regularmente, corridas armamentistas múltiplas e rápidas.20 Essas corridas provavelmente não se limitariam às armas convencionais que conhecemos hoje. Uma corrida armamentista baseada em armas “inteligentes” de destruição em massa (WMD) seria possível, armas como o vírus da varíola manipulado para matar apenas pessoas com determinados traços genéticos.21
Corridas armamentistas baseadas em pessoas. Não são apenas os Estados que podem estar nas atividades de produção de armas. A manufatura pessoal facultada pela MNT poderia permitir que a produção de WMD se deslocasse de governos para pequenos grupos, ou, até, indivíduos. Esta democratização da produção de armas é o lado mais escuro da PF. Bill Joy, co-fundador e principal cientista da Sun Microsystems, apelidou esta capacidade de destruição em massa capacitada pelo conhecimento, chamando-a de “um modo surpreendente e terrível de dar poder a pessoas extremistas”.22 Considerando-se o gosto de alguns hackers de criarem vírus de computador nocivos, apenas por prazer, não é um salto conceitual grande demais imaginar que “nano-hackers” pudessem decidir fazer o mesmo com vírus reais.
Talvez a mais apavorante de todas as armas—e, desse modo, sem dúvida uma aspiração natural dos nano-hackers em potencial—sejam os tristemente famosos montadores replicantes da gosma cinza. Desenhar um replicante gosma cinza seria, contudo, um empreendimento extraordinariamente complexo e exigiria a solução de um grande número de desafios tecnológicos de extrema dificuldade. Em conseqüência, houve quem argumentasse que um esforço assim seria ou impossível ou altamente improvável.23 Contudo, uma tentativa empenhada e articulada talvez não alcançasse a meta, mas ainda assim produziria algo extremamente perigoso e incontrolável. Para ajudar a garantir que a criação acidental da nanomáquina da gosma cinza permaneça uma impossibilidade prática, o Foresight Institute, de Drexler, organização sem fins lucrativos fundada para “ajudar a preparar a sociedade para tecnologias avançadas previsíveis”, recomendou diretrizes para o desenvolvimento seguro da NT. O instituto recomenda que se evite o uso de replicantes (isto é, montadores) por completo, ou, pelo menos, que eles sejam desenhados de modo a não poderem operar em ambiente natural.24
Vigilância. Uma aplicação inicial de MNT e NT provavelmente será em plataformas e instrumentos avançados pouco onerosos para microvigilância. Produzidos em massa, esses sensores descartáveis poderiam ser usados para cobrir áreas grandes, fornecendo um recurso ubíqüo de vigilância das pessoas que estiverem nessa área. Embora seja obviamente uma preocupação de campo de batalha, essa vigilância também poderia ser empregada contra quaisquer grupos ou populações, levantando questões de privacidade e legalidade.25
Danos ao meio-ambiente. A MNT foi vista originalmente como panacéia potencial para uma pluralidade de problemas ambientais: por exemplo, nanobôs na atmosfera poderiam reparar fisicamente a camada de ozônio ou remover os gases do efeito estufa. Recentemente, contudo, a NT está sendo cada vez mais vista, ela própria, como um problema potencial para o ambiente. Espera-se que tanto a NT quanto a MNT produza grande quantidade de nanopartículas e outros nanoprodutos descartáveis, cujos efeitos ambientais não são, atualmente, conhecidos. Este “nanolixo”, suficientemente pequeno para penetrar nas células vivas, levanta a possibilidade do envenenamento tóxico de órgãos, seja pelo próprio nanolixo, seja pelos elementos tóxicos associados a essas nanopartículas.26
Ameaças indiretas
Podemos esperar graves perturbações decorrentes da MNT, já que ela deixa “pequena ou nenhuma vantagem para a defesa do líder de uma onda tecnológica anterior”.27 Assim, ela tem o potencial de revolucionar radicalmente o campo geopolítico e apresentar poderosas ameaças indiretas à segurança nacional.
Econômicas. Vislumbrando as mudanças econômicas potenciais desencadeadas pela MNT, Bill Joy estimou que a riqueza gerada pela fusão do mundo físico com o mundo da informação, no século XXI, equivalerá a mil trilhões de dólares americanos. Um antigo presidente da Câmara dos Deputados, Newt Gingrich, observou que isto equivale a “acrescentar 100 economias dos Estados Unidos ao mercado mundial”.28
Ninguém pode estar inteiramente seguro de como parecerá uma economia baseada na MNT, mas a maior parte das especulações parece concordar em que provavelmente se assemelharia à economia do software, como o desenho do produto representando a parte mais difícil e dispendiosa da produção, sendo a distribuição e a manufatura muito baratas. Uma analogia atual seria a dos milhões de homens-horas e dólares gastos para criar um processador de texto, comparados com a facilidade com que os usuários podem fazer cópias dos programas com seus computadores domésticos e distribuí-las aos amigos. Isto também indica problemas de pirataria e direitos de propriedade industrial que certamente irão infestar a economia da MNT.29
Sendo, essencialmente, um processo de manufatura altamente avançado que enfatiza a manufatura distribuída de baixo custo, a MNT ameaça diretamente economias que se têm valido intensamente da produção em massa. Por exemplo, o crescimento econômico da China depende do uso da mão-de-obra humana em massa para produzir bens baratos e de alta qualidade. Em 2004, ela forneceu mais de US$18 bilhões de bens manufaturados à cadeia de lojas Wal-Mart. 30 O que acontecerá, porém, com a economia chinesa quando a Wal-Mart for capaz de usar, no território americano, suas próprias fábricas munidas de MNT, para produzir bens de alta qualidade a custos ainda menores? Aliás, quando os consumidores forem capazes de produzir, em suas próprias casas, seus produtos de alta qualidade, baixo custo e personalizados, quem precisará da Wal-Mart?
Espera-se, também, que a MNT aperfeiçoe as tecnologias energéticas como a da energia solar, tornando as células solares mais robustas e muito mais eficientes. Combinando-se manufaturas mais eficientes e veículos mais leves, porém mais fortes (os materiais baseados em carbono podem ser até 60 vezes mais resistentes que o aço), as exigências de suprimento de energia alimentados pelo petróleo podem declinar rapidamente. Isto, obviamente, teria impacto significativo nas companhias de petróleo e nos países com economias baseadas no petróleo. Uma desorganização correspondentemente siginificativa é provável na indústria de transportes que, no ano passado, encomendou petroleiros no valor de US$77,2 bilhões.31 Além disso, se a manufatura distribuída permitisse que a maior parte das pessoas ou comunidades construísse o que necessita localmente, o comércio internacional, em termos físicos, também poderia diminuir, o que lança dúvidas quanto ao efeito de “paz por meio da interdependência” da globalização, continuar, no futuro, a ser tão poderoso. Com efeito, o isolacionismo pode tornar-se a opção política mais atraente para muitos países.
Sociais. As aplicações médicas da MNT podem apresentar alguns dos maiores desafios sociais e éticos na história humana. As questões da clonagem, produtos agrícolas geneticamente modificados, aborto e até implante de [partes do sistema auditivo chamadas] caracóis criaram, nos anos recentes, bombas atômicas políticas. A MNT oferece um nível completamente novo de controle sobre o corpo humano e seus processos. Em sintonia com isto, a MNT foi adotada por um movimento transumanista, que defende o uso da tecnologia para aperfeiçoar física, intelectual e psicologicamente a forma humana, levando-a de sua fase “primitiva” atual a uma fase mais adiantada, “pós-humana”. As reações das idéias transumanistas vão do entusiasmo ao temor e hostilidade claros, passando pela indiferença. O historiador Francis Fukuyama afirmou que o transumanismo é uma das “Mais Perigosas Idéias do Mundo”.32
Revolucionárias. A ameaça final aqui discutida resulta essencialmente da sinergia entre as outras ameaças. A Profa. Carlota Perez previu um modelo de revolução tecnológica em dois períodos: (1) um período de instalação, durante o qual o novo paradigma tecno-econômico (TEP) obtém crescente apoio do mundo dos negócios e (2) um período de desdobramento, quando o paradigma se torna a nova norma. Durante o período de instalação, o entusiasmo dos investidores pelo novo TEP cresce freneticamente, levando a uma lacuna cada vez maior entre os “incluídos”, que tiram proveito do novo TEP, e os “excluídos”, que ainda estão investindo no antigo TEP.33 Finalmente, o investimento frenético cria uma bolha de valorização de ações que, ao explodir, leva a um ponto de inflexão, geralmente uma recessão grave ou, até uma depressão. É durante o ponto de inflexão que a sociedade e o sistema jurídico são obrigados a reformarem-se e se alterarem para fazer face às características do novo TEP que se estabelece.34
Se este modelo de revolução tecnológica for correto—e ele parece corresponder bastante bem às cinco últimas revoluções tecnológicas—então, em algum momento, durante o desenvolvimento da MNT, haverá um período de inquietação econômica, política e social, à medida que o sistema mundial é puxado em sentidos opostos e passa a adotar o novo TEP em vez de permanecer no antigo. Considerando-se o impressionante conjunto de mudanças que a MNT pode produzir, esse período pode ser especialmente tenso. Além disso, se a MNT já tiver permitido algumas de suas mais perigosas aplicações potenciais—como a destruição em massa baseada no conhecimento—antes que estruturas adequadas de controle político e social tenham sido estabelecidas, esse período pode ser catastrófico.
Que estratégias deveriam
ser buscadas pelos
Estados Unidos?
Há três opções básicas para a estratégia que os Estados Unidos podem adotar para lidar com a MNT:- algum tipo de regulamentação e controle internacionais deliberados,
- proibição total do desenvolvimento da MNT.
Há duas aproximações estratégicas relevantes para regulamentação internacional da MNT:
- uma regulamentação imposta de maneira hegemônica pelos Estados Unidos ao resto do mundo, ou
As premissas básicas da regulamentação deveriam ser maximizar o acesso público aos benefícios da MNT ao mesmo tempo que se eliminasse o desenvolvimento independente (isto é, não-regulamentado) minimizando-se o acesso à própria tecnologia de manufatura ou à interferência com ela. De maneira ideal, o fornecimento livre dos frutos da MNT à população mundial diminuiria a pressão pelo desenvolvimento de programas de P&D alternativos não-regulamentados e, simultaneamente, poderia reduzir o impulso no sentido de conflitos civis e/ou relacionados com recursos, virtualmente erradicando os efeitos da pobreza.35
O Center for Responsible Nanotechnology, um think tank sem fins lucrativos “voltado para o estudo e a discussão das principais implicações ambientais e sociais da nanotecnologia avançada”, propôs uma solução baseada em uma nanofábrica, um sistema de MM auto-contido e altamente seguro—na verdade uma versão altamente avançada da NT dos aparelhos dos laboratórios de fabricação de Gershenfeld.36 Nesta estratégia, logo que possível, seria estabelecido um programa de desenvolvimento estritamente protegido, para desenvolver o conhecimento especializado em MM necessário a construir-se uma nanofábrica. É essencial que a nanofábrica seja desenvolvida antes que qualquer P&D de programa competidor de MNT dê frutos. Então, as nanofábricas seriam reproduzidas e distribuídas a países e organizações (e, a partir de certo momento, até a pessoas) pelo mundo afora, com ênfase nas regiões mais carentes. Esta nanofábrica “padrão” seria o único aparelho de manufatura em MNT no mundo e teria limitações internas quanto ao que poderia construir (por exemplo, não construiria montadores replicantes, exceto em condições monitoradas e sob controle altamente rigoroso).
A vantagem dessa estratégia é que ela ofereceria algo muito desejado—as nanofábricas —sob rigorosa regulamentação. Estas poderiam funcionar como instrumentos válidos de assistência humanitária, como instrumentos que impedissem governos recalcitrantes de prosseguirem em programas degenerados de desenvolvimento de MNT ou, até, como garantia de que as necessidades dos cidadãos fossem atendidas.37 Provavelmente, será gigantesca a atração das nanofábricas (e a procura delas), especialmente se forem feitas para uso pessoal. Como observou Gershenfeld a respeito de seus laboratórios de fabricação, conceitualmente similares: “o atrativo principal da fabricação pessoal é realizar desejos individuais em vez de simplesmente atender às necessidades do mercado de massa”.38 Ao restringir os métodos de nanofabricação apenas à nanofábrica padrão, seria minimizada, provavelmente no máximo das possibilidades, a ameaça dos replicantes da gosma cinza.39
É claro que esta estratégia também apresenta riscos e desvantagens. Embora a disponibilidade ampla das nanofábricas possa diminuir o desejo de P&D de programas independentes de MNT, grupos “rebeldes” tentarão ocultar seus projetos, tornando, assim, o cumprimento das normas mais difícil de verificar. Há um risco significativo na distribuição das nanofábricas; as unidades necessitarão incorporar um amplo sistema de segurança que proteja tanto seu funcionamento físico interno quanto o software que as faz operar. Todos os hackers do mundo (para não falar de organizações e governos degenerados) morrerão de vontade de romper a segurança da nanofábrica. Uma solução possível é que as nanofábricas sejam programadas para destruírem-se a qualquer tentativa de acesso das áreas restritas da unidade. Isto levará a um número muito grande de nanofábricas destruídas, mas, como elas podem ser criadas de modo relativamente fácil e barato, não será problema substituí-las.
Para que essas estratégias tenham uma chance de funcionamento decente, os Estados Unidos não devem tentar assumir uma postura hegemônica e tornarem-se o único governo desse sistema. Uma estratégia assim exigiria um programa de desenvolvimento da nanofábrica estritamente americano. Além disso, os esforços dos Estados Unidos para dominar a tecnologia da nanofábrica provavelmente resultariam em uma “corrida pela nanofábrica”, que os Estados Unidos poderiam perder. A Europa, o Japão, a Coréia, a China e a Índia, todas estão levando a efeito pesquisas em nanotecnologia.40 Não importa quão ruim seja a imagem dos Estados Unidos perante o mundo hoje, ela poderia piorar exponencialmente se os Estados Unidos aparecessem como a única superpotência da MNT. Portanto, por motivos técnicos, assim como por motivos diplomáticos, a opção de primazia dos Estados Unidos não é a melhor.
Não obstante, os Estados Unidos devem desempenhar um papel importante no estabelecimento de uma organização de controle internacional que formule e leve a efeito a estratégia de regulamentação. Uma organização assim teria melhor oportunidade de realmente desenvolver uma nanofábrica que funcionasse antes que o fizessem terrivelmente difícil bem como de estimular a legitimidade internacional do plano da nanofábrica, o que, por sua vez, provavelmente resultaria em que ele fosse mais facilmente comprado pela comunidade mundial. Já há alguns vestigios de apoio internacional para uma estrutura de contenção de NT semelhante à do controle de armas. Por exemplo, o relatório especial da Organização do Tratado do Atlântico Norte a respeito de tecnologias emergentes observa que “a necessidade de controle dessas novas tecnologias é mais importante agora do que em épocas anteriores do desenvolvimento científico”.41
Será muitísissimo difícil estabelecer e manter uma organização como a descrita aqui, e muitos anos serão necessários para as manobras diplomáticas que garantam os acordos adequados. O economista David Friedman observa:
Nada fazer
Uma alternativa válida às dificuldades de regulamentação seria deixar a tecnologia surgir do modo pelo qual as forças sociais e de mercado determinassem. Os que propõem esta estratégia confiariam em que as partes envolvidas (governos e empresas multinacionais que realizam a maioria da P&D) auto-regulassem o uso e distribuição da MNT. Também é possível que a pesquisa de NT colida com um muro intelectual e que a mera dificuldade de dominar a nanociência e suas aplicações adiem a chegada da MNT, de modo que uma revolução tecnológica desorganizadora jamais ocorra ou seja drasticamente mitigada.
Esta estratégia abriga o mais alto nível de risco e é, essencialmente, uma estratégia de esperançoso otimismo. Múltiplos programas de P&D provavelmente levarão a múltiplos êxitos, que poderiam muito bem levar à competição militar em níveis nacionais bem como a uma corrida armamentista de MNT. Múltiplos programas significarão níveis variáveis de êxito, e haverá menos probabilidade de que a organização ou Estado que esteja na liderança aceite uma regulamentação, especialmente se essa regulamentação diminuir ou eliminar sua liderança. Considerando-se o enorme potencial da MNT para aplicações tanto pacíficas quanto violentas, controlá-la com uma estratégia de “nada fazer” é análogo a fornecer reatores nucleares a todos os países supondo que nenhum deles vai usá-los para desenvolver armas nucleares. Esta estratégia tem pouca probabilidade de funcionar e é, na verdade, muitíssimo perigosa.
Proibir a pesquisa e desenvolvimento
Se a MNT é tão perigosa, por que permitir que ela chegue a ser desenvolvida? Por que inventar outra coisa equivalente à bomba nuclear? Os proponentes desta estratégia—como Bill Joy, já mencionado—defenderiam, no mínimo, o seguinte: (1) adoção de uma moratória voluntária por parte da comunidade científica contra pesquisas ulteriores relacionadas com MNT e, afinal, (2) estabelecimento de um conjunto de leis internacionais para proibir qualquer P&D em MNT. O Sr. Joy entende que o abandono unilateral da pesquisa em guerra biológica por parte dos Estados Unidos é um “exemplo brilhant)” dos princípios dessa estratégia.43
De muitas maneiras este caminho é quase tão perigoso quanto a estratégia do nada fazer, à exceção do fato de que poderia levar mais tempo para que os perigos aparecessem. Há dois problemas principais com esta estratégia: verificação e natureza de uso dual da MNT. Mesmo que todos os países concordassem com a proibição da pesquisa, como outras nações verificariam o cumprimento das normas? Ao contrário da tecnologia nuclear, a MNT não exige, para criar armas mortais, materiais exóticos que possam ser detectados à distância, e as armas nucleares não podem fazer milhões de cópias delas próprias. Detectar programas de atores não-estatais seria ainda mais difícil. Temos aqui os mesmos problemas enfrentados pelas agências de controle de armas biológicas, exceto pelo fato de que as armas biológicas só são desejadas por certos tipos de organizações. Virtualmente todos—Estados, organizações e pessoas—desejarão a NT. Os benefícios potenciais da MNT a tornam muito atraente, especialmente para os países mais pobres. Ela não só capacitaria nações a fazerem armas com facilidade, mas também purificaria e dessalinizaria água, criaria casas baratas, mas resistentes, forneceria energia distribuída e confiável e, possivelmente, chegaria a expandir ou melhorar o suprimento de alimentos. Em poucas palavras, a MNT pode ajudar um país pobre a fornecer as necessidades básicas da vida, o que não deixa incentivo econômico ou militar para cumprir as regras. Na verdade, uma estratégia assim só estimularia o desenvolvimento em países que não cumprissem as regras.44 Isto gera outro problema: não haveria um país “cumpridor das normas” capaz de defender-se contra uma nação desgenerada equipada com MNT, a menos que os países que cumprissem as normas mantivessem programas de P&D ocultos e ilícitos. Parafraseando o mote da National Rifle Association: se a nanotecnologia se tornar ilegal, só os fora-da-lei terão nanotecnologia.
Conclusão
Como observa a mais recente Estratégia de Defesa Nacional a respeito dos avanços tecnológicos desorganizadores: “essas irrupções podem ser imprevisíveis... devemos reconhecer suas conseqüências potenciais e proteger-nos contra elas”.45 Qualquer que seja a estratégia que os Estados Unidos adotem para lidar com a MNT, ela não deverá ser de natureza reativa. As ameaças possibilitadas pela MNT provavelmente vão evoluir mais rapidamente do que o ritmo das soluções burocráticas.
Notas
1. National Nanotechnology Initiative, “How Much Money is the US Government Spending on Nanotechnology?” Disponível em:2. J. S. Brown e P. Duguid, Don’t Count Society Out: A Response to Bill Joy. In Societal Implications of Nanoscience and Nanotechnology, Mihail C. Roco e William Sims Bainbridge (ed.) (Arlington, VA: National Science Foundation, 2001), 33.
3. Um átomo de alumínio, por exemplo, tem características físicas e químicas muito diferentes das do pó de alumínio ou de um linguote de alumínio.
4. Produtos recentes incluem processadores de computador e discos rígidos menores e de maior capacidade, cosméticos e protetores solares aperfeiçoados, coberturas de pára-brisas de automóveis e calças de algodão capazes de repelir a água confeccionadas por Eddie Bauer.
5. Depois que o termo nanotecnologia passou a significar qualquer empreendimento técnico em nanoescala, Drexler passou a adotar os termos nanotecnologia molecular ou manufatura molecular para evitar confusão e enfatizar os aspectos de manufatura de sua teoria. Rudy Baum, “Point-Counterpoint: Nanotechnology”, Chemical and Engineering News 81, no. 48 (1 December 2003), 37–42, Disponível em:
6. K. Eric Drexler, Christina Peterson e Gayle Pergamit, Unbounding the Future (New York, NY:William Morrow and Company, 1991). Disponível em:
7. Chris Phoenix, “A Technical Commentary on Greenpeace’s Nanotechnology Report”, Center for Responsible Nanotechnology, September 2003, Disponível em:
8. K. Eric Drexler, “The Future of Nanotechnology: Molecular Manufacturing”, EurekAlert! April 2003. Disponível em:
9. Chris Phoenix and K. Eric Drexler, “Safe Exponential Manufacturing”, Nanotechnology, no. 15 (9 June 2004): 869–72, Disponível em:
10. Ralph C. Merkle, “Nanotechnology”, Zyvex Nanotechnolog, n.d., Disponível em:
11. K. Eric Drexler, Engines of Creation (New York, NY: Anchor Books, 1985), 4.
12. “Powerful Products of Molecular Manufacturing”, Center for Responsible Nanotechnology, n.d., Disponível em:
13. Drexler, Engines of Creation,172–73.
14. Dezenas de novelas de ficção científica, episódios da série de televisão The X-Files e Star Trek: The Next Generation, bem como ficção popular, como a novela de Micheal Crichton Prey (New York: HarperCollins, 2002) todos eles apresentaram nanorrobôs ao estilo de Drexler.
15. O Dr. Richard Smalley recebeu o Prêmio Nobel de Química, em 1996, pela descoberta dos fulerenos, um tipo de molécula de carbono grandemente promissora nas aplicações relacionadas com NT. Rudy Baum, “Point-Counterpoint: Nanotechnology”, Chemical and Engineering News 81, no. 48 (1 December 2003), 37–42. William Illsey Atkinson, Nanocosm (New York: AMACOM, 2003), 6–7, 8, 33, 124–39, 145, 171, 179, 203, 251, 255, 257, 259, 266–67, 271–72.
16. É importante observar que, a despeito de tentativas por 20 anos, ainda não há argumentos convincentes de que a MNT seja fisicamente impossível; até os argumentos do Dr. Smalley parecem não ser conclusivos. (Para complicar as coisas, os debatedores sempre parecem estar descordando do seu antecessor.)
17. National Science Foundation, Societal Implications of Nanoscience and Nanotechnology, Mihail C. Roco e William Sims Bainbridge (eds.) (Arlington, VA: National Science Foundation, 2001), iv, 11.
18. Citado por Daniel Ratner e Mark A. Ratner, Nanotechnology and Homeland Security (Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2004), 82.
19. Neil Gershenfeld, “Personal Fabrication”, Edge, 23 July 2003. Disponível em:
20. Essas corridas armamentistas poderiam, na verdade, estabilizar situações internacionais se a produção se limitasse a armas convencionais e os estoques de um lado equilibrassem os do outro, mas confiar em uma situação tão improvável é, no mínimo, ingênuo.
21. Esta capacidade de corrida armamentista sem dúvida seria do gosto dos que se inclinam à limpeza étnica. Outras possibilidades desagradáveis só têm limite na imaginação e na estrutura do DNA humano.
22. Bill Joy, “Why the Future Doesn’t Need Us”, Wired, 8.04, 8 April 2000. Disponível em:
23. Drexler, autor da idéia, agora está entre os que a rejeitam.
24. Neil Jacobstein e Glenn Harlan Reynolds, “Foresight Guidelines on Molecular Nanotechnology Version 4.0”, Foresight Institute, October 2004. Disponível em:
25. Para um estudo adicional das questões levantadas pela emergência da vigilância ubíqüa, veja-se David Brin, The Transparent Society (Reading, MA: Addison-Wesley, 1998).
26. Future Technologies, Today’s Choices, Greenpeace Environmental Trust (London: 2003), 36.
27. Ratner e Ratner, Nanotechnology and Homeland Security, 114.
28. Newt Gingrich, “The Age of Transitions”, in Societal Implications of Nanoscience, 24–25.
29. David Friedman, “What Would a Nanotech Economy Look Like?” (presentation abstract for 1st Conference on Advanced Nanotechnology, 22–24 October 2004), Foresight Institute, Disponível em:
30. Jiang Jingjing, “Wal-Mart’s China Inventory to Hit US$18B This Year”, China Business Weekly, (29 November 2004).
31. Will Kennedy e Haslinda Amin, “World-Wide’s Sohmen Says Tanker Rates May Have Peaked”, Bloomberg.com, 26 April 2005. Disponível em:
32. Francis Fukuyama, “Transhumanism”, Foreign Policy, no. 144 (September/October 2004), Disponível em:
33. É interessante observar que o entusiasmo do investidor fornece os meios para estruturar a infra-estrutura do novo TEP e, portanto, ajuda a garantir seu êxito final. O extenso cabo transoceânico de fibra ótica instalado durante a explosão do investimento em tecnologia da informação foi essencial para os atuais êxitos indianos neste negócio.
34. Carlota Perez, Technological Revolutions and Financial Capital, (Northampton, MA: Edward Elgar Publishing, 2003), 47–59.
35. Paul Collier, “The Market for Civil War”, in Richmond M. Lloyd (ed.) Strategy and Force Planning, (Newport, RI: Naval War College Press, 1995), 461–68.
36. “About CRN”, Center for Responsible Nanotechnology. Disponível em:
37. A novela de ficção científica de Joe Haldeman, Forever Peace (New York, Penguin Putnam, 1997) descreve um mundo futuro em que o acesso às nanofábricas—ou “nanoforjas”, no livro—é usado pelos Estados Unidos e seus aliados como vantagem de poder contra países mais pobres.
38. Gershenfeld, “Personal Fabrication”.
39. Poderia ser, também, aconselhável limitar, por desenho, as nanofábricas a usarem matéria-prima apenas com um aditivo específico controlado e, então, impor limites ao suprimento da matéria-prima como fonte adicional de controle. Contudo, isto tornaria a matéria-prima tão valiosa quanto o petróleo (ou mais); além disso, isto acabaria essencialmente com o propósito da MNT livremente disponível. A contrapartida é que a matéria-prima livremente disponível seria um impulso importante para as companhias de transporte de grande volume. Além disso, possivelmente acarretaria uma queda correspondente na importância das linhas marítimas de comunicação—o que, por sua vez, retiraria algumas justificativas da estrutura de força da Marinha.
40. O programa de pesquisa da China em NT, por exemplo, está crescendo rapidamente, ficando atrás do orçamento da NNI dos Estados Unidos em apenas $100 milhões. Veja-se Catherine Brahic, “China Encroaches on US Nanotech Lead”, Science and Development Network, 8 April 2005, Disponível em:
41. North Atlantic Treaty Organization, Special Report: Emerging Technologies and Their Impact on Arms Control and Non-Proliferation (Brussels: NATO Parliamentary Assembly Science and Technology Committee, 2001), 16.
42. Citado por Richard A. Posner, Catastrophe: Risk and Response (New York: Oxford University Press, 2004), 19–20.
43. Joy, “Why the Future Doesn’t Need Us”.
44. Supondo-se, é claro, que o governo do país pobre esteja disposto a permitir essa distribuição de riqueza.
45. Department of Defense (DOD), The National Defense Strategy of the United States of America (Washington, DC: DOD, March 2005), 4.
Colaborador
O Capitão-de-Corveta Thomas D. Vandermolen, Marinha dos EUA (Bacharelado, Louisiana Tech University; Mestrado, Naval War College), é oficial encarregado, Centro de Ciência e Tecnologia Marítimas, Yokosuka, Japão. Foi, anteriormente, aluno da Escola de Guerra Naval, Newport Naval Station, Rhode Island. Foi oficial de inteligência no Esquadrão 5 Nucleado Navios-Aeródromos, Base Aeronaval, Atsugi, Japão, no Comando de Operações Especiais dos EUA, Forças dos EUA na Coréia, e no 35º Esquadrão de Controle Marítimo, Estação Aeronaval, North Island, California. Quando aluno da Escola de Guerra Naval dos EUA, seu ensaio “A Smarter INTELINK” recebeu o Primeiro Prêmio no Concurso Literário patrocinado pelo Diretor de Inteligência Naval. |
Encontro de Blogueiros
Encontro de blogueiros discute liberdade e regulamentação dos meios de comunicação |
Maíra Kubík Mano - Carta Maior | |
28.05.2012 | |
“Os excessos de liberdade se corrigem com mais liberdade”. A frase, do historiador francês Alexis de Tocqueville, aparece ao lado dos dizeres de Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal: “A liberdade de expressão é a maior expressão da liberdade”. Juntas em um grande banner com logotipos de patrocinadores e apoiadores, elas dão o tom do 3º Encontro Nacional de Blogueir@s, cujos eixos principais são a defesa da liberdade de expressão e da blogosfera e a luta pela democratização da comunicação. O evento começou ontem em Salvador (BA), com um auditório lotado de comunicadores, laptops, jornalistas, tablets, políticos e telefones celulares. Segundo a organização, o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, 426 ativistas se inscreveram para acompanhar os debates, que deverão ocorrer até domingo (27/05). “O mote do segundo encontro foi a necessidade de democratizarmos a comunicação. Dessa vez, além de manter a luta pelo marco regulatório e pela liberdade de expressão, temos uma nova motivação: a blogosfera passou a incomodar”, afirmou Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos e autor do Blog do Miro. Outra mudança foi o nome do evento: o primeiro e segundo encontros vinham com a alcunha de blogueiros “progressistas”, que foi abandonada nessa terceira edição. Na abertura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou em 2011, enviou uma mensagem em vídeo onde justificava sua ausência em função da recuperação do tratamento de câncer. Na gravação, Lula defende que “a internet é um meio importantíssimo para garantir a liberdade de expressão, a diversidade de opinião e a construção da cidadania. Ter informação e conhecer diversas visões do mesmo fato é essencial para garantir que todo o cidadão possa opinar e participar da vida política de seu país”. O ex-presidente também afirmou que a comunicação “não pode estar concentrada em poucas empresas, em poucas famílias, em poucos lugares. As opiniões do povo do Norte, do Nordeste, das mulheres, as pessoas portadoras de deficiência, dos pobres têm que aparecer. E os blogs e a internet têm um papel fundamental nisso”. O governo Dilma Rousseff foi representado por Nelson Breve, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que classificou a blogosfera como “uma imprensa vigilante”. “Além de trazer novas informações e pontos de vista, ela também vigia os erros e a partidarização, às vezes excessiva, da grande imprensa”, disse. Marcio Pochmann, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), também esteve presente e concordou que é preciso “valorizar o trabalho dos blogueiros”. “É um momento muito significativo na produção de conhecimento e informação”. Regulamentação A primeira mesa do encontro contou com o jornalista e ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula, Franklin Martins, o deputado federal Emiliano José (PT/BA), da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e Direito à Comunicação (Frentecom), e a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária nacional de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosane Bertotti. “No Brasil, jornalismo é como farmácia antiga: de manipulação”, afirmou Franklin Martins, arrancando risadas da plateia. “Eu não defendo um marco regulatório para a imprensa em geral, mas para as comunicações que são concessões públicas. É um bem público como a luz e a água”. Assim como Lula, Martins também criticou a excessiva concentração da mídia: “isso atenta contra a democracia, contra o acesso a uma informação plural”. O ex-ministro se disse otimista porque acredita que um novo marco regulatório seja “inevitável”. “O nosso é ultrapassado, o Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, ou seja, anterior à TV a cores. Vivemos uma convergência de mídia. Celular, internet, TV, vai ser tudo a mesma coisa”. Ele demonstrou, porém, preocupação que esse debate não seja feito de forma pública, no Congresso Nacional: “Ou se pactua esse processo, ou prevalece a lei do mercado. E daí vai vencer o mais forte, as empresas de telecomunicações”. Para Martins, a maneira de combater isso é reivindicando a Constituição de 1988. “Nossa bandeira deve ser ‘nada que fira a Constituição, mas tudo que está na Constituição’. Mídia é a plataforma, não é o essencial. O essencial é que não pode haver monopólio e oligopólio. Que político não pode ter concessão. Que não se pode vender, sublocar horário para bispo ou shopping eletrônico. Que se proteja o menor, a honra, a privacidade. Ter cotas para a produção regional e independente. Tudo isso está na Constituição!” Rosane Bertotti, do FNDC, concordou com o otimismo de Franklin Martins, mas disse que a sociedade precisa estar atenta ao fato de que a PEC do Trabalho Escravo e a Comissão da Verdade demoraram anos para avançar, o que poderia também ocorrer com o marco regulatório das comunicações. Bertotti argumentou ainda que, embora os jornais e revistas não sejam concessões públicas, é necessário questionar a disponibilização de recursos públicos, por meio de anúncios, a veículos como a Veja, que segundo ela “nega direito à informação”. Emiliano José encerrou o debate dizendo que vivemos um momento-chave. “O novo está nascendo com força, mas ainda não é dominante. A velha mídia não acabou e ela tem um projeto político para o Brasil que não é o nosso. Há a novidade da internet. Quando a velha mídia diz uma coisa, milhares de blogueiros dizem outra”. O deputado federal afirmou estar aguardando que o governo envie a discussão para o Congresso. “Aí vai ser preciso debater com a sociedade brasileira para que ela compreenda o direito à comunicação. Nós é que teremos que dizer que não pode haver uma convergência entre as teles e a velha mídia”. Marco Civil No sábado, o 3º Encontro de Blogueir@s abriga uma das diversas audiências públicas em torno do Marco Civil da Internet, documento que deverá servir de base para a discussão de todos os temas relacionados à internet no país. João Arruda (deputado federal do PMDB/PR e presidente da comissão que analisa o projeto), Jandira Feghali (deputada federal do PCdoB/RJ e integrante da comissão) e Sérgio Amadeu (integrante do Comitê Gestor da Internet) discutirão com os blogueiros o potencial de inovação da internet. No domingo (27/05), o evento divulgará uma carta-manifesto e o local do próximo encontro. |
Entrevista com François Houtart
Economia global: ''necessitamos de alternativas, e não somente de regulação do mercado''. Entrevista especial com François Houtart
“Hollande vai ser o Lula da Europa. Vai ser muito social-democrata. Não vai mudar o sistema fundamental. Irá adaptá-lo”, declara o sociólogo belga.
Confira a entrevista.
A crise econômica e política europeia é a manifestação de “um conflito entre duas lógicas: a lógica dos interesses do capital e a lógica dos interessas do bem-estar social”, declara o sociólogo belgaFrançois Houtart à IHU On-Line. Segundo ele, “durante algum tempo houve a possibilidade, com o regime social-democrata, de combinar os dois interesses. Mas agora, com a crise, há uma eleição: ou um ou outro”.
Na entrevista a seguir, concedida pessoalmente à IHU On-Line, no Instituto Humanitas Unisinos - IHU, por conta de sua vinda ao Brasil, Houtart analisa os impactos da crise europeia nos países atingidos e menciona as implicações políticas decorrentes. “Os partidos políticos clássicos continuam no poder: a social-democracia ou os partidos liberais de direita. Mas vemos em alguns países duas novas forças políticas ainda marginais: a extrema direita e movimentos à esquerda da social-democracia na França, na Grécia, na Espanha”. Embora não vislumbre a ascensão da direita na Europa, ele menciona que os partidos estão se popularizando entre as classes trabalhadoras. “Uma parte da extrema direita na França, a Frente Nacional, tem 18% de aceitação, mais da metade desse percentual é oriundo da classe operária. Essas pessoas estão marginalizadas e o discurso da extrema direita é anticapitalista, anti-imigração e antirracista. Esta parte da classe trabalhadora vê a imigração como a causa fundamental do desemprego. A propaganda da extrema direita vai na direção de acusar os imigrantes. Os mais pobres, que não têm uma visão analítica, votam na direita”, relata.
Em relação ao futuro da esquerda na Europa, Houtart é enfático: “eles podem crescer ou decrescer, porque a maioria das pessoas tem medo de perder o que possuem e, por isso, continuam a votar nos gerentes do sistema, que são a extrema direita ou a social democracia, que já não têm tantas diferenças”. E dispara: “A queda do muro de Berlim, ainda na Europa, repercute no sentido de que o socialismo não é a solução. (...) Falta à classe política europeia audácia, pensamento novo, para justamente criar, pouco a pouco, outro projeto. A Europa está totalmente dominada pelas forças econômicas. Eu penso que têm 16 mil lobistas permanentes em Bruxelas, representantes das grandes empresas multinacionais, para influir no funcionamento da comunidade”.
Na avaliação de Houtart, o avanço da democracia participativa não é suficiente para mudar a conjuntura atual; é preciso mudanças econômicas e políticas. “Nada menos democrático do que a economia capitalista, a concentração do poder de decisão, a relação desigual entre homens e mulheres. O desafio das instituições sociais, culturais, religiosas é encontrar uma maneira de introduzir o princípio democrático para fazer com que os seres humanos sejam sujeitos de sua história, e não somente clientes de partidos políticos”, conclui.
François Houtart (foto abaixo) é graduado em Filosofia e Teologia pelo Seminário Mechelen, Bélgica, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Católica de Louvain, e doutor em Sociologia pela mesma instituição. É professor emérito da Universidade Católica de Louvain. Lançou recentemente o livro A Agroenergia - Solução para o Clima ou Saída da Crise para o Capital? (Petrópolis: Editora Vozes, 2010).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual é a natureza e a essência da crise econômica na Europa?
François Houtart – A crise europeia é parte da crise mundial que se iniciou nos EUA com a crise financeira do subprime [1], mas que afetou também a Europa e o sistema financeiro europeu. A causa fundamental desta crise é a diferença entre a economia real e a economia artificial, ou seja, a economia financeira. A economia real mundial, nos últimos 20 anos, tem decaído e, desde os anos 1990, o capital financeiro cresceu e passou a assumir um papel hegemônico dentro do sistema capitalista. Atualmente a importância relativa do capital financeiro é 11 vezes maior do que o PIB mundial. É uma diferença enorme e, em algum momento, essa “bola” financeira teria de estourar, pois era totalmente artificial. Como disse Susan George, uma norte-americana que vive Paris, essa é uma economia cassino, onde a especulação tem tido um papel enorme. Em grande parte isso acontece por causa da existência dos paraísos fiscais, para onde o dinheiro das multinacionais e dos fundos de pensão é enviado. Esses paraísos fiscais não contribuem para a riqueza mundial, pois simplesmente acumulam, acumulam e acumulam.
IHU On-Line – Essa crise pode se expandir para o Brasil?
François Houtart – Sim, a crise já começa a afetar os países emergentes: Brasil, China, Índia. Em particular, o Brasil por conta da desindustrialização e pelo fato de ter uma economia baseada na extração de minérios e commodities. Por isso seria necessário a integração dos países da América Latina.
O modelo político adotado no Brasil, em que todos podem crescer economicamente, é vulnerável a crises mundiais. Talvez os impactos não serão sentidos em curto prazo, mas em médio e longo prazo. A questão fundamental neste debate é a lógica do sistema capitalista, que é movido pelo lucro e, obviamente, pelo lucro financeiro. Aliás, o sistema financeiro tem sido o sistema orientador de toda a economia mundial.
IHU On-Line – Como a crise tem se manifestado nos diferentes países da Europa? Pode nos dar um breve panorama de como ela atinge a França, Itália, Alemanha, Espanha e Grécia?
François Houtart – A crise é evidentemente mundial, mas suas as características são particulares em cada país. Os países do sul da Europa são mais afetados, como Grécia, Portugal, Espanha, e Itália. Em parte isso acontece porque são economias mais jovens, com menos peso industrial, e, no caso da Espanha, se trata de uma economia muito especulativa. Para se ter ideia, a cada semana na Espanha cerca de 50 mil pessoas são retiradas de suas casas porque não podem pagar o aluguel. Isso é a irracionalidade total do sistema capitalista.
Na Grécia há particularidades, porque o governo foi extremamente corrupto, divulgando dados estatísticos falsos durante anos. A Alemanha, que é a economia mais forte da Europa, é relativamente sólida, mas a qual custo? Quase a metade da classe operária da Alemanha não tem mais contratos de trabalho definidos em longo prazo; são contratos em curto prazo. Isso acontece porque é permitido diminuir o salário e, assim, o custo do milagre alemão é pago, em grande parte, pela classe operária. A economia alemã se fortalece por conta da exportação. E isso tem graves consequências na Europa, porque, para salvar o sistema financeiro e os bancos, os Estados europeus têm gastado bilhões de euros, e por isso se endividaram.
A ordem do Banco Central Europeu é de que nenhum Estado pode ter uma dívida maior do que 3% do PIB e, por isso, devem reduzir os gastos. A questão é que se trata de Estados que haviam conquistado o bem-estar social. Para reduzir a dívida, então, os Estados terão de reduzir os serviços públicos de saúde, educação, pensões, salário mínimo. O salário mínimo na Grécia é algo em torno de 400 euros. Assim, é o povo quem tem de pagar a dívida do Estado, que se deve, em grande parte, à salvação dos bancos e do sistema financeiro.
IHU On-Line – Quais são as reais ameaças que a conquista histórica do Welfare State já vem sofrendo na Europa?
François Houtart – Já se anuncia na imprensa o fim do estado de bem-estar social na Europa. Claro que a situação é diferente na Grécia. Na Bélgica, o estado de bem-estar social ainda é mais sólido, mas não se sabe por quanto tempo.
IHU On-Line – Como o senhor analisa a insistência de austeridade da Alemanha para com a Grécia?
François Houtart – Essa austeridade só fará aumentar a crise, porque as políticas de austeridade ditas para favorecer o crescimento diminuem o poder de compra das pessoas. Como é possível pensar em crescimento se o poder de compra diminui? É algo totalmente contraditório. Joseph Stiglitz tem dito que estas são políticas criminais, porque não são anticíclicas. A Alemanha tem um regime direitista e vive a serviço do capital. Evidentemente, os interesses do capital são de continuar a acumulação e mantê-la, sem se preocupar com o bem-estar da população.
Existe um conflito entre duas lógicas: a lógica dos interesses do capital e a lógica dos interessas do bem-estar social. Durante algum tempo houve a possibilidade, com o regime social-democrata, de combinar os dois interesses. Mas agora, com a crise, há uma eleição: ou um ou outro.
IHU On-Line – Foi positivo para a Europa ter criado uma moeda única?
François Houtart – Sim. O euro foi uma criação positiva, porque é interessante para uma região ter uma moeda própria para não depender do dólar. Mas as condições de criação do euro se deram na lógica do sistema capitalista, com um Banco Central que se diz autônomo da política, mas não é autônomo dos interesses capitalistas. Isso tem provocado, por exemplo, a impossibilidade para um país como a Grécia de ter uma política monetária adaptada à situação da crise. Por isso a Grécia tem de obedecer à Alemanha, e tinha de obedecer à França, durante o governo Sarkozy.
IHU On-Line – Em função da crise econômica e política, seria o caso de extinguir o Euro?
François Houtart – Não. Mas seria preciso mudar as regras de funcionamento. Porque se extinguirem o euro, a Europa irá depender ainda mais da economia norte-americana, porque o dólar é a única moeda internacional. E esse é o problema da China e da América Latina, porque são muito vulneráveis por conta do dólar. A China tem quase um terço da dívida norte-americana em dólares. E se o dólar continuar baixando, isso significará uma redução das reservas monetárias latino-americanas.
Da mesma forma que a Europa, hoje os asiáticos estão pensando na criação de uma moeda própria para escapar da hegemonia norte-americana. A reserva federal norte-americana está emitindo dólares e há quatro anos não divulga quantos dólares estão produzindo para pagar a dívida norte-americana, e as guerras de Iraque, Afeganistão etc. Trata-se de um segredo de Estado.
IHU On-Line – Como resolver esta instabilidade econômica gerada por conta do dólar?
François Houtart – Participo da comissão das Nações Unidas sobre a crise financeira e monetária com Stiglitz, e durante quase um ano discutimos essas questões. Eu era o único membro desta comissão que não era economista; os demais eram neokeynesianos. A comissão chegou à conclusão de que era necessário regular o sistema econômico de maneira radical no sentido de suprimir os paraísos fiscais, de criar um conselho econômico à parte do sistema de segurança da ONU, de reformar o Banco Mundial, o FMI, de mudar as Agências de Risco etc. Mas nenhuma dessas propostas foi aprovada.
A comissão também propôs a criação de moedas regionais e a criação de uma moeda que já existe no FMI, a qual lhe permite emitir moedas de intercâmbio e não moedas de circulação. Evidentemente os Estados Unidos reagiram contrariamente, porque uma base imperialista ainda existente no país quer manter o dólar como moeda internacional. Essa possibilidade, embora seja desenvolvida dentro do sistema capitalista, poderia romper com a hegemonia de um único centro frente a outros. Seria, então, possível criar um mundo com vários polos.
IHU On-Line – Que futuro vislumbra para o Euro?
François Houtart – Não penso que irá mudar muito. É possível que a Grécia saia do euro e que isso represente um golpe para a moeda europeia. Mas ainda é cedo para dizer se isso significa o fim do euro.
IHU On-Line – A crise econômica empurrou a Europa para uma crise política? Como ela se manifesta?
François Houtart – Evidentemente que sim. Os partidos políticos clássicos continuam no poder: a social-democracia ou os partidos liberais de direita. Mas vemos em alguns países duas novas forças políticas ainda marginais: a extrema direita e movimentos à esquerda da social-democracia na França, na Grécia, na Espanha. Uma parte da extrema direita na França, a Frente Nacional, tem 18% de aceitação, mais da metade desse percentual é oriundo da classe operária. Essas pessoas estão marginalizadas e o discurso da extrema direita é anticapitalista, anti-imigração e antirracista. Esta parte da classe trabalhadora vê a imigração como a causa fundamental do desemprego. A propaganda da extrema direita vai na direção de acusar os imigrantes. Os mais pobres, que não têm uma visão analítica, votam na direita.
A extrema esquerda tem apenas 1 ou 2% de aprovação. A esquerda que tem importância se parece com a social-democracia, mas é mais articulada com um projeto que não é social-democrata. Eles podem crescer ou decrescer, porque a maioria das pessoas tem medo de perder o que possuem e, por isso, continuam a votar nos gerentes do sistema, que são a extrema direita ou a social-democracia, que já não têm tantas diferenças.
IHU On-Line – O senhor compartilha a ideia de que a Europa pode cair nos braços da direita?
François Houtart – Não. Basta ver o que aconteceu com Sarkozy, com a direita na Grécia, na Itália. A Espanha é governada pela direita, mas devido à falta da social-democracia e do socialismo espanhol, que foi quase mais neoliberal do que a direita. NaAlemanha é provável que a social-democracia vença as próximas eleições. Não penso que direita possa chegar ao poder como o fascismo chegou depois da primeira Guerra Mundial, porque as circunstâncias são diferentes. Mas penso que ela pode exercer uma pressão forte sobre as políticas de outros países.
IHU On-Line – Qual o significado político da vitória da esquerda na França? A eleição de Hollande na França pode mudar o rumo das coisas?
François Houtart – Hollande vai ser o Lula da Europa. Vai ser muito social-democrata. Não vai mudar o sistema fundamental. Irá adaptá-lo. Haverá menos austeridade, mais preocupação com o sistema. Mas não mudará o sistema.
IHU On-Line – Por que é difícil mudar o sistema?
François Houtart – Porque a força do sistema econômico ainda é muito forte, e a concentração do capital e das multinacionais ainda desempenham um papel intenso na reprodução do sistema. Por outro lado, a queda do muro de Berlim, ainda na Europa, repercute no sentido de que o socialismo não é a solução. Há assim um vazio de pensamento progressista e um vazio de soluções que não podem mais ser sustentadas pelo capitalismo ou pelo socialismo. Somente as novas gerações poderão mudar. Falta à classe política europeia audácia, pensamento novo, para justamente criar, pouco a pouco, outro projeto.
A Europa está totalmente dominada pelas forças econômicas. Eu penso que têm 16 mil lobistas permanentes em Bruxelas, representantes das grandes empresas multinacionais, para influir no funcionamento da comunidade europeia. A comissão de conselho da comunidade europeia sobre os agrocombustíveis está composta, com uma exceção, por 16 representantes de empresas desse setor.
IHU On-Line – É a política subordinada à economia?
François Houtart – Exato. E o papel das organizações sociais como sindicatos, por exemplo, é um papel subordinado. Eles foram, dentro da história social da Europa, movimentos de transformação. Mas, com o estado de bem-estar social, seu papel tem sido defender os direitos conquistados. Todavia, eles perderam sua visão progressista e seu papel de propor outro sistema econômico e social. Por isso estamos frente a uma imobilização política.
IHU On-Line – Em que medida os indignados podem mudar as regras da política? É possível esperar algum resultado político e democrático dessas manifestações?
François Houtart – Sim e não. É extraordinário ver a reação das pessoas na Espanha, especialmente dos jovens. Na Espanha, quase 50% dos jovens estão sem emprego. Mas essa é uma geração que perdeu muito a capacidade de análise, especialmente na Europa, com o fim do socialismo real e do que significou essa experiência socialista. Há um regresso das análises marxistas. Perdemos muitos instrumentos de análise da sociedade, os quais estamos recuperando pouco a pouco. Por isso a reação de hoje é um pouco anarquista. As pessoas se encontram, estão indignadas com o sistema, mas têm pouca capacidade de propor algo que possa muda-lo. Esse é o problema. Esse movimento tem capacidade de evoluir e um dia ser uma força política, mas ainda não.
IHU On-Line – As relações internacionais entre França e Alemanha devem mudar por conta da eleição do presidente Hollande na França?
François Houtart – Sim. Evidentemente a política de Ângela Merkel era muito similar à de Sarkozy, e ela apoiou a campanha dele oficialmente. A eleição de Hollande irá mudar as relações entre os dois países, porque o novo presidente da França quer diminuir as políticas de austeridade. Penso que Hollande terá de pensar em longo prazo, considerando as futuras eleições da Alemanha, porque, ao que tudo indica, a social-democracia irá vencer as urnas aí. A partir do resultado eleitoral, uma nova coalizão europeia poderia se organizar ao redor do projeto social-democrata, especialmente entre Alemanha e França. Mas eu não tenho muita esperança nesse projeto, porque ele não irá “tocar” nas questões essenciais.
IHU On-Line – Que potenciais o senhor vislumbra na agroenergia como alternativa para o capitalismo?
François Houtart – Atualmente existem três correntes de pensamento que propõe mudanças diferentes. A primeira corrente orienta no sentido de não fazer uma mudança radical. Essa é a visão atual da Comissão Europeia, ou seja, não mudar o sistema neoliberal, continuar com a privatização dos serviços públicos, com políticas de austeridade etc. A proposta dessa corrente é mudar as pessoas. Eles condenam os banqueiros, que não viram a crise, mas não sugerem mudar o sistema.
A segunda orientação é a da Comissão de Stiglitz, que propõe regular o capitalismo, porque o mercado não se autorregula. Portanto, é necessário que o Estado e organismos internacionais regulem o sistema.
A terceira orientação é de que a crise atual não é apenas uma crise conjuntural dosistema capitalista, como as que conhecemos nos últimos 200 anos. Trata-se de uma crise do sistema. A diferença desta crise com a que ocorreu em 1929 não é somente uma crise financeira com suas consequências sobre as economias reais; diferentemente, a atual situação trata-se de uma crise mais ampla, alimentar, energética, climática. Diante da de civilização há também uma crise de valores.
Alternativas
Necessitamos de alternativas, e não somente de regulação do mercado. Essa é a perspectiva que apresento juntamente com o economista egípcio Samir Amin, com o qual tenho trabalhado. Ele diz que acabou o papel histórico do capitalismo. O custo atual da manutenção do capitalismo é tão grande sobre o planeta, o clima e os recursos naturais que ele, o sistema, está vivendo um momento em que não é mais possível ser reproduzido no futuro. Esse é um problema que implica na sobrevivência do gênero humano.
Já sabemos, do ponto de vista ecológico, que estamos utilizando um planeta e meio e que a possibilidade de regeneração da terra não é mais possível. E se todo mundo destruir e consumir no mesmo nível dos EUA, necessitaremos de quatro planetas, mas só temos um.
Todas as crises têm a mesma origem: a lógica do capitalismo, que é, por um lado, a lógica do lucro, e não a do bem-estar das populações; e, por outro lado, ignorância das externalidades, de tudo o que é externo ao cálculo do mercado, que são os danos ecológicos e sociais.
Essas crises demonstram que temos de encontrar um novo paradigma da existência coletiva dos seres humanos no planeta. Como construir e pensar isso? Escrevi um livro sobre o novo paradigma pós-capitalista, tratado de ver que o bem-comum da humanidade é a vida, a capacidade de reproduzir a vida do planeta e dos seres humanos que, como dizem os indígenas de Chiapas, são a parte consciente da natureza. Podemos pensar isso a partir dos quatro fundamentos de toda a vida humana. O primeiro diz respeito à relação dos seres humanos com a natureza, quer dizer, é preciso mudar fundamentalmente esta relação. Para o capitalismo, a natureza é um recurso natural que se pode transformar em mercadoria. Devemos abandonar essa visão e respeitar a terra como fonte de toda a vida. Isso tem muitas consequências práticas. Se aceitarmos este princípio, não poderemos aceitar mais a propriedade privada dos recursos naturais, que são patrimônio da humanidade. Não se pode aceitar mais a mercantilização dos bens essenciais para a vida humana, como a água, ou as sementes.
A segunda questão é como a economia poderá construir as bases materiais da vida física, cultural, espiritual de todas as pessoas do planeta. Isso significa uma revolução na concepção de economia, que não significa simplesmente produzir bens com valor agregado. Como dizem alguns atores, o capitalismo foi um parêntese na história da humanidade e agora seu papel se esgotou.
Democracia
O terceiro aspecto é introduzir o conceito da democracia generalizada a todas as relações sociais, humanas e organizacionais. Fala-se que estamos dando um passo adiante com a democracia participativa. Mas isso não basta se não ocorrem mudanças políticas e econômicas. Nada menos democrático do que a economia capitalista, a concentração do poder de decisão, a relação desigual entre homens e mulheres. O desafio das instituições sociais, culturais, religiosas é encontrar uma maneira de introduzir o princípio democrático para fazer com que os seres humanos sejam sujeitos de sua história, e não somente clientes de partidos políticos.
Finalmente, é preciso interculturalidade, ou seja, permitir a todas as culturas os saberes, permitir que participem desta construção de um novo paradigma. Sobre esses quatro elementos, os quais são fundamentais na construção de cada sociedade, se pode construir o novo paradigma o qual devemos construir teoricamente, porque – como disse Rosa Luxemburgo – “não há revolução sem teoria”. Assim, devemos continuar a elaboração teórica com a colaboração de movimentos sociais e de intelectuais para construir essa perspectiva que pode servir de base para as lutas sociais e para a convergência dos movimentos sociais. Até agora cada movimento social lutou por uma causa própria, individual, e isso é positivo, mas falta uma meta de conjunto. Por isso o conceito do bem-viver, de Sumak Kawsay, tem a sua importância, visto ser uma visão de conjunto. Claro que não devemos adotar a cosmovisão dos indígenas, mas sim a sua ideia fundamental.
Utopia
Para terminar, isso pode parecer uma utopia, mas é uma utopia necessária no sentido de buscar algo que não existe hoje, mas que poderá existir amanhã. Essa tem que ser uma meta inspirada também na fé cristã. É uma meta que já existe na prática, porque milhares de inciativas já trabalham para que houvesse outra relação com a natureza, com a criação de uma economia solidária, para se defender os direitos das mulheres, para se ter uma nova identidade cultural, etc. Esses movimentos existem, porém ainda não representam uma força para transformar o sistema. Temos visto esta diversidade nos Fóruns Sociais Mundiais, e isso é importante para criar uma nova consciência mundial.
IHU On-Line – O senhor continua marxista? Em que medida Marx continua atual para pensar as crises de hoje?
François Houtart – Sim, continuo. O pensamento marxista continua muito válido, mas precisamos adotar o marxismo como método e não como dogma. Método no sentido derefletir sobre as situações atuais, e não somente do sistema capitalista do século XIX na Europa. É muito importante o que Marx disse sobre a natureza. Ele disse que o capitalismo está destruindo o metabolismo entre natureza e seres humanos, e com consequências que serão graves e que somente o socialismo pode e deve reconstruir o metabolismo entre seres humanos e natureza.
Entretanto, os sistemas socialistas reais não acompanharam a visão da modernidade, de que não é possível um progresso linear por conta dos problemas ambientais. Nesse sentido, penso que Marx continua fundamental para analisarmos a sociedade.
IHU On-Line – Gostaria de acrescentar algo?
François Houtart – Gostaria de acrescentar a importância da visão cristã nesse processo de mudança, e a necessidade de reiniciar uma teologia da libertação, esta corrente que foi muito destruída pela Igreja institucional. Seria necessário, frente à gravidade da crise, repensar uma teologia nesse sentido e dialogar com outras religiões, como o budismo, por exemplo. Fiz meu doutorado sobre o budismo, que é uma corrente de pensamento muito importante para encontrar o problema da crise dos valores.
Notas
[1] Subprime: é um crédito de risco concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa.(Por Patricia Fachin e César Sanson)
Assinar:
Postagens (Atom)