segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A FARSA NO PARLAMENTO....


A farsa parlamentar do diálogo pela busca de soluções para os problemas indígenas e quilombolas

Paulo Brack, biólogo e professor da UFRGS, escreve:
Caro Marco, repasso um relato importantíssimo do CIMI sobre o teatro do absurdo que o “Agrobusiness da Província”, liderado por Ana Amélia Lemos, promoveu na Assembleia Legislativa em uma “audiência pública” na sexta feira última, onde o assunto era quilombolas e indígenas e eles não foram convidados e não puderam entrar, pois lotaram de gente cabresteada para fazer coro para eles… Nestas horas a gente se pregunta o que o RS se diferencia do resto do Brasil, quando se refere ao setor ruralista-fundamentalista, e à oligarquia do atraso que continua cantando de galo por estes pagos.
O texto é de Roberto Antonio Liebgott, do Cimi Regional Sul – Equipe Porto Alegre:
A farsa parlamentar do diálogo pela busca de soluções para os problemas indígenas e quilombolas
Um espetáculo teatral: diálogo para solucionar os problemas fundiários envolvendo agricultores, indígenas e quilombolas no Estado do Rio Grande do Sul – O palco: Assembléia Legislativa do Estado – Os atores principais: senadora Ana Amélia Lemos, deputados federais do RS e fazendeiros vinculados à Confederação Nacional da Agricultura – Os Coadjuvantes: pequenos agricultores – As vítimas: povos indígenas e quilombolas.
Assim pode ser descrita a “audiência pública” convocada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, realizada no dia 21 de outubro, em Porto Alegre, com o intuito de estabelecer um diálogo para a “busca de soluções à questão da demarcação das terras indígenas e quilombolas no Rio Grande do Sul”. No palco, dirigiu a cena a senadora Ana Amélia Lemos (PP), auxiliada pelos deputados estaduais Edson Brum (PMDB) e Gilberto Capoani (PMDB), e pelos de deputados federais Alceu Moreira (PMDB) e Luiz Carlos Heinze (PP), todos parlamentares do Rio Grande do Sul. E, como toda cena teatral requer apoiadores, lá estavam representadas algumas instituições: Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Federação da Associação dos Municípios do Estado do Rio Grande do Sul (Famurs), Fundação Cultural Palmares, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ministério Público Estadual (MPE), a subchefe da Casa Civil do Estado Mari Peruzzo e ainda representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA). E, para aplaudir a performance dos protagonistas deste espetáculo, centenas de pequenos agricultores lotaram a platéia da Assembléia Legislativa.
Da “audiência”, cuja temática versava particularmente sobre os direitos constitucionais dos povos indígenas e quilombolas, representantes destas populações não participaram como convidados. Não bastasse isso, sua entrada, como espectadores, só se deu de maneira forçada sendo que quase não conseguiram adentrar no auditório Dante Barone. Nem mesmo a Funai, que havia sido convidada para a audiência, se interessou em informar e articular as comunidades indígenas da região. Por sua vez ela se fez presente no palco do espetáculo, representando, no enredo, o Governo Federal e seus interesses. Estava lá para prestar esclarecimentos sobre procedimentos de demarcação, para justificar a inoperância do governo, apesar de ter por obrigação constitucional criar e executar uma política indigenista e demarcar todas as terras indígenas do país.
O que desejavam os promotores desta audiência, com ares de espetáculo e direito a aplausos fervorosos e vaias ensandecidas, não era o diálogo e, muito menos, uma solução justa para o conflito fundiário que se estende por décadas, transformando a vida dos povos indígenas e comunidades quilombolas em um drama sem fim. A questão tomou proporções vultosas no estado do Rio Grande do Sul porque há segmentos importantes do agronegócio implicados. Por isso, a justa luta dos povos indígenas e dos quilombolas pela terra é vista como um “problema” que afeta o bem estar, a produtividade, o desenvolvimento do estado. No teatro que se encenou com a alcunha de audiência pública, o interesse era fazer uma demonstração de força, comprometendo os parlamentares com a “causa” dos segmentos econômicos e social (latifúndio e agronegócio), cuja intenção primeira é limitar os direitos constitucionais dos povos indígenas e dos quilombolas que lutam pela garantia da demarcação e o usufruto de suas terras. (LEIA MAIS AQUI)

COMISSÕES DA ASSEMBLÉIA E DO SENADO DEBATEM SITUAÇÃO DE COMIUNIDADES QUILOMBOLAS NO RS


AUDIÊNCIA PÚBLICA CONJUNTA
Comissões da Assembleia e do Senado debatem situação de comunidades quilombolas no RS
Luiz Osellame - MTB 9500 | Agência de Notícias   14:29 - 14/11/2011
Edição: Letícia Rodrigues - MTB 9373     Foto: Marco Couto 
Debate reuniu representantes do poder público e de comunidades quilombolas
Debate reuniu representantes do poder público e de comunidades quilombolas
As comissões de Cidadania e Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado e de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia gaúcha realizaram audiência pública conjunta na manhã desta segunda-feira (14), no Teatro Dante Barone, para apurar as condições de vida de comunidades quilombolas no interior do RS.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa,  senador Paulo Paim (PT-RS), proponente e coordenador do encontro, destacou a importância de dialogar sobre um tema que envolve a todos, como é o caso da questão das condições de vida das populações quilombolas no Rio Grande do Sul, com um foco especial na comunidade de Morro Alto. "Todo negro que não entender que é descendente de quilombola ele não entendeu ainda sequer qual é a razão da sua vida", sentenciou. O parlamentar lembrou também das lutas travadas pelas comunidades indígenas em todo o país para que tenham seus direitos constitucionais garantidos, a exemplo do que vem buscando a comunidade quilombola.
Paim também aproveitou a ocasião para encaminhar no Senado Federal um voto de pesar à família do falecido deputado do Partido Progressista, Chicão Gorski.
O presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Miki Breier (PSB), respaldou a luta empreendida pelas comunidades quilombolas, mas também lembrou a luta de mulheres que sofrem com a violência dos companheiros e a luta contra a violência sexual de crianças e adolescentes. "A luta das mulheres vítimas de violência não é só das mulheres, mas de homens e mulheres que querem uma sociedade mais justa", conclamou.
Representando a presidência do Parlamento gaúcho, o deputado Edegar Pretto (PT) relembrou as suas origens e militância no Movimento dos Sem Terra (MST) e agradeceu ao senador Paim pela iniciativa da audiência pública. O parlamentar também lamentou a morte do deputado Chicão Gorski (PP), destacando a sua atuação na Casa durante o seu primeiro ano de mandato.
Pretto ressaltou ainda a luta dos movimentos sociais na busca de direitos garantidos na Constituição, ressaltando que para os trabalhadores nada é fácil e nada cai do céu. "Aqui não se trata de pedir um favor, não se trata de que o governo atenda uma pauta de reivindicações. Aqui se trata de reconhecer direitos que foram negados ao longo de muitos anos", argumentou o parlamentar ao defender a efetiva titulação das áreas quilombolas em todo o país e no Rio Grande do Sul.
O deputado Raul Carrion (PCdoB), coordenador da Frente Parlamentar Quilombola da Assembleia gaúcha, lembrou que o direito à titulação das terras quilombolas foi colocado no ato das disposições constitucionais transitórias, justamente porque se entendia que rapidamente a questão seria resolvida, mas não foi o que aconteceu. "Passaram-se 23 anos da aprovação da nossa Constituição  e menos de 5% das terras quilombolas foram tituladas. A continuar neste ritmo, levaremos 460 anos para que este direito constitucional seja assegurado", argumentou o parlamentar ao lamentar a morosidade do poder público.
Carrion também denunciou as pressões existentes para que se diminua o ritimo dos trabalhos de titulação; a falta de quadro de pessoal do Incra, responsável pelo processo de titulação; a Ação Direta de Inconstitucionalidade para que o decreto que regra a titulação seja anulado, além de citar a tramitação de dezenas de projetos que buscam na Câmara Federal para retirar direitos assegurados às comunidades indígenas e quilombolas.
Manifestações
Mário Teodoro, representante da Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial (Sepir), salientou que o órgão tem se esforçado para que a política  de reconhecimento das terras quilombolas seja de fato mais dinâmica. Ele sublinhou o trabalho que vem sendo desenvolvido no Plano Plurianual (PPA) para que nos próximos  quatro anos esta política tenha um impulso maior. "Mas já para o próximo ano temos trabalhado com emendas que vão garantir recursos para que possamos de fato fazer com que esta política se efetive para todo o Brasil", garantiu Teodoro.
O representante da Secretaria Geral da Presidência da República, Nilton Luis Godoy Tubino, destacou que o órgão é responsável por fazer as relações com os movimentos sociais do campo e das cidades e sindicais com o centro do governo. Ele salientou que  a secretaria está trabalhando com a Sepir para fazer um diagnóstico da situação quilombola no Brasil. Tubino expressou a preocupação do ministro Gilberto Carvalho não só com aquelas áreas que devem ser tituladas e demarcadas, mas também com a situação real das áreas já demarcadas e tituladas. "Não só é importante para o governo que estas terras sejam demarcadas e tituladas, mas que as políticas públicas do governo federal cheguem a estes locais, pois isto reforça a dignidade do povo quilombola", garantiu Tubino.
O procurador-geral do Estado do Rio Grande do Sul, Carlos Henrique Kaipper, garantiu que o governo estadual trata a questão da regularização das terras quilombolas como prioridade, mas reconhece que a competência para realizar a titulação é do Incra. "Esta questão é tão importante e os entraves são tão grandes para que esta política pública seja implementada que não basta só o governo federal estar nesta luta. É necessário que o estado do Rio Grande do Sul e todos os municípios estejam engajados nesta luta. É muito importante também a mobilização das comunidades quilombolas", argumentou Kaipper.
A defensora pública federal, Fernanda Hahn, garantiu que o órgão continuamente exige que a titulação das terras quilombolas sejam efetivadas pelo governo federal. Ela destacou que faltam pessoal e estrutura para que o Incra do Rio Grande do Sul possa executar as tarefas que resultam na demarcação e titulação das terras quilombolas.
Roberto Ortiz, representante do Quilombo de Candiota, defendeu que se aprove leis que facilitem o acesso das comunidades à titulação de terras e às políticas públicas. Ele manifestou a sua inconformidade com o reconhecimento de direito à propriedades que historicamente pertencem a negros e índios, mas que são permanentemente negadas ou questionadas.
Ainda participaram do encontro representantes de comunidades e associações quilombolas, comunidades indígenas, CNBB, Brigada Militar, OAB RS, Ministério Público do Rio Grande do Sul, UFRGS, prefeitos e vereadores, entre outros.
© Agência de Notícias
Tel. (51) 3210-2555
Fax. (51) 3210-1226
redacao@al.rs.gov.br
Abraços.
ELIEGE ALVES
Líder Comunitária da Comunidade Quilombola Rural de Palmas (Bagé/RS).