domingo, 3 de junho de 2012

A Nanotecnologia e a Nanomáquinas...



  • Fonte:  http://www.moodle.sead.furg.br/file.php/1610/Nanociencias/Bibliografia_Nanociencias/nanomaquinas284_1_.pdf

  •  A NANOMÁQUINAS
  • QUÍMICOS COMO ARQUITETOS 
  • DO MUNDO MOLECULAR
  • LAGUNA DESIGN/SCIENCE PHOTO LIBRARY/LATINSTOCKQ U Í M I C A
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  • Elas são como as máquinas que inundam nosso cotidiano. Têm eixos, 
  • rolamentos, engrenagens, rodas, chassis... Giram, dobram, esticam, encolhem, abrem e fecham partes de sua complexa estrutura. Respondem 
  • a comandos e são alimentadas por energia. A diferença é que suas dimensões são da ordem do bilionésimo de metro. Ou seja, dispositivos 
  • cujos tamanhos equivalem a dezenas ou centenas de átomos enfi leirados.
  • As nanomáquinas já invadiram os laboratórios do mundo. E esse arsenal 
  • vem sendo recrutado para executar tarefas – na área médica, ambiental 
  • e farmacêutica – impossíveis para seus congêneres macroscópicos.
  • Célia Machado Ronconi
  • Laboratório de Química Supramolecular e Nanotecnologia,
  • Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense
  • ma máquina pode ser defi nida como um aparelho – formado por componentes, como motor, pistão, válvula e engrenagem – que executa 
  • uma tarefa ao ser fornecida a ele energia. 
  • Máquinas permeiam nosso cotidiano. Por exemplo, acordamos ao 
  • som do despertador; preparamos café usando uma cafeteira elétrica; 
  • conferimos nossas mensagens de correio eletrônico no computador; 
  • andamos de carro, ônibus, metrô, avião, trem, barco... Máquinas nos ajudam a economizar e otimizar nosso tempo, para que possamos empregá-lo 
  • de outras maneiras.
  • Uma máquina molecular, também denominada nanomáquina – o prefi -
  • xo nano (anão, em grego) indica que a máquina tem dimensões na ordem 
  • de um bilionésimo de metro (10
  • -9 
  • m) –, pode ser descrita com base nos mesmos conceitos empregados para defi nir uma máquina macroscópica: dispositivo que executa determinada função ao receber um estímulo externo que 
  • pode ser elétrico, luminoso, químico ou térmico. Contudo, os componentes 
  • que formam uma nanomáquina são moléculas ou aglomerados de átomos. 
  • As nanomáquinas podem ser naturais ou artifi ciais. As mais importantes 
  • – e mais estudadas – do primeiro tipo são a proteína miosina e a enzima 
  • F
  • 0
  • F
  • 1
  • -ATP sintase. Esta última, formada por proteínas, é uma das máquinas 
  • moleculares naturais mais efi cientes conhecidas. Converte a energia que 
  • vem da molécula adenosina trifosfato (ou simplesmente ATP) em movimento rotacional com quase 100% de efi ciência, percentual praticamente inalcançável no reino das máquinas macroscópicas.  >>>
  • Modelo feito em computador 
  • de um diferencial molecular 
  • cujo funcionamento 
  • é baseado na peça usada 
  • em veículos para permitir 
  • que as rodas girem com 
  • velocidades diferentes 
  • nas curvas. No caso, cada 
  • esfera representa um átomo
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  • A miosina, responsável pela contração e extensão muscular, pertence a uma classe de motores lineares proteicos 
  • que convertem energia química em trabalho, com base 
  • nos movimentos coletivos de seus componentes moleculares. São máquinas biológicas complexas e sofisticadas
  • cujo funcionamento é responsável por processos vitais do 
  • organismo.
  • O primeiro protótipo  Inspirados por motores proteicos naturais, cientistas – entre eles, vários químicos – 
  • desenvolveram nanomáquinas artificiais – daí, merecidamente, serem, por vezes, chamados arquitetos ou engenheiros do mundo molecular. 
  • Essas nanomáquinas de laboratório são ainda primitivas quando comparadas às naturais. Mas não podemos
  • esquecer que a natureza levou milhares – ou milhões – de 
  • anos para que as nanomáquinas naturais pudessem realizar suas tarefas de modo eficiente.
  • O norte-americano Richard Feynman (1918-1988), 
  • Nobel de Física de 1964, é considerado o pai da nanotecnologia. Cerca de 20 anos depois de sua palestra profética e desafiadora em 1959 (ver ‘Há muito mais espaço lá 
  • embaixo’), a equipe de Seiji Shinkai, da Universidade de 
  • Kyushu (Japão), construiu o primeiro protótipo de nanomáquina. No caso, uma molécula que funciona como uma 
  • chave liga-desliga acionada pela luz.
  • A partir desse primeiro protótipo de nanomáquina artificial, houve progresso gigantesco nessa área de pesquis a ,  pr inc ipa lment e  de v ido   à   c ombina ç ã o  de   f a t o r  e s 
  • como: i) o avanço de métodos de síntese (‘fabricação’) de 
  • substâncias orgânicas e inorgânicas; ii) o desenvolvimento de técnicas computacionais que permitem entender os 
  • tipos de ligações e interações químicas presentes nos 
  • sistemas; iii) o avanço de técnicas analíticas para caracterizar a estrutura das moléculas. 
  • O grande sonho dos químicos que trabalham nessa 
  • área é construir nanomáquinas que sejam tão eficientes 
  • quanto as naturais e que executem tarefas como transporte de medicamentos para pontos específicos do corpo 
  • humano; localização e destruição de moléculas orgânicas 
  • tóxicas presentes no ar e na água; transporte mais rápido 
  • de informações etc. 
  • Pode parecer ficção científica, mas muitos sistemas 
  • assim já foram fabricados. Entre os mais interessantes, 
  • estão nanomáquinas que exercem a função de músculos 
  • artificiais, caminhões, rotores, elevadores, válvulas etc.
  • Todas são movidas por um combustível específico, que 
  • pode ser químico, fotoquímico, eletroquímico ou térmico.
  • Algumas dessas nanomáquinas: i) músculos moleculares artificiais, com componentes capazes de se contrair 
  • e se estender, com movimento similar aos músculos naturais; ii) caminhões moleculares, formados por rodas, 
  • chassi e eixos; iii) rotores à base de moléculas com duas 
  • partes que giram uma em torno da outra de forma controlada, de modo semelhante a um giroscópio; iv) nanoelevadores com plataformas moleculares que sobem e 
  • descem entre duas estações; v) nanoválvulas que lembram 
  • Figura 1. Em A, elementos básicos 
  • que formam um músculo natural. 
  • Em B, músculo artificial
  • ADAPTADO DE J. AM. CHEM. SOC. 2005, 127, P. 9745 / AMERICAN CHEMICAL SOCIETY / DALTON TRANS. 2010, 39, 10.557-10.570 / THE ROYAL SOCIETY OF CHEMISTRYQ U Í M I C A
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  • reservatórios com um componente móvel que se abre e 
  • fecha, como uma porta, liberando seu conteúdo. 
  • Músculos artificiais  O grupo de pesquisa de Jean-
  • -Pierre Sauvage, da Universidade Louis Pasteur, em Estrasburgo (França), há cerca de 15 anos vem desenvolvendo nanomáquinas artificiais, explorando a química dos 
  • chamados metais de transição – elementos que ocupam a 
  • parte central da tabela periódica, como o cobre e o zinco. 
  • A equipe construiu um músculo artificial que pode se expandir e se contrair de modo reversível, pela simples troca 
  • do íon cobre pelo de zinco (figura 1). Para isso, foi sintetizada uma molécula orgânica – azul e preto na figura  –, 
  • com uma parte linear e outra em forma de roda.
  • Tanto na parte linear quanto na roda, há grupos com 
  • dois e três átomos de nitrogênio, respectivamente. Quando o cobre perde um elétron, ele se liga a quatro átomos 
  • de nitrogênio, e a molécula ganha uma forma expandida. 
  • Mas, ao ser substituído pelo zinco (que perdeu dois elé-
  • trons), este prefere se ligar a cinco nitrogênios, e aí ocorre a contração. Para voltar a expandir a molécula, basta 
  • adicionar o íon cobre novamente à solução.
  • Por meio de cálculos computacionais, determinou-se 
  • o comprimento da molécula de uma ponta a outra. Na 
  • forma estirada, ele é de 85 Å (angström), unidade que 
  • homenageia o físico sueco Anders Jonas Ångström (1814-
  • 1874), igual a um centésimo de milionésimo de centímetro. Na forma contraída, o comprimento cai para 65 Å. 
  • Esse valor de contração corresponde a 27% daquele que 
  • ocorre em músculos naturais.
  • Nanoveículos  Do Texas (EUA), vieram nanomáquinas que se assemelham a nanocarros e nanocaminhões. 
  • O feito é da equipe de James Tour, da Universidade de 
  • Rice. Essas moléculas contêm a mecânica básica de um 
  • carro: rodas, chassi, eixos. E mais: são capazes de se mover sobre uma superfície quando abastecidas. 
  • As rodas são formadas por moléculas de carbono com 
  • 60 átomos desse elemento, lembrando uma bola de futebol. O chassi é formado por moléculas planas em forma 
  • de anéis. Os eixos são unidos às rodas por meio de ligações 
  • triplas de carbono que, por sua vez, são ligados ao chassi 
  • (figura 2A). 
  • HÁ MUITO MAIS ESPAÇO LÁ EMBAIXO
  • Um dos primeiros cientistas a cogitar a possibilidade de construir 
  • nanomáquinas foi o físico norte-americano Richard Feynman 
  • em sua palestra ‘There is plenty of room at the bottom’ (Há muito espaço lá embaixo), em 29 de dezembro de 1959, no Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA). 
  • Segundo Feynman, “se pudéssemos arranjar átomos da 
  • maneira como desejamos, quais propriedades eles poderiam 
  • ter? Quem sabe? Eu não sei exatamente o que pode acontecer, 
  • mas tenho quase certeza de que, quando tivermos algum controle sobre como arranjar as coisas em escala molecular, conseguiremos uma gama enorme de possíveis propriedades que 
  • as substâncias podem ter e de coisas que poderemos fazer.” 
  • A palestra (em inglês) está em http://bit.ly/nREZT 
  • Figura 2. Em A, estrutura molecular do 
  • nanocaminhão. Em B, movimentos realizados sobre 
  • uma superfície de ouro ao ser aquecido
  • ACC. CHEM. RES. 2009, 42, 473 / 2009 / 2005 AMERICAN CHEMICAL SOCIETY38 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 48 | 284 
  • faz o giroscópio girar sobre uma superfície sem cair, parecendo desafiar a lei da gravidade. O giroscópio é empregado para auxiliar a orientação de aeronaves.
  • Inspirado por esse fascinante instrumento, Miguel 
  • Garcia-Garibay, da Universidade da Califórnia, em 
  • Los Angeles (EUA), fabricou moléculas e identificou o
  • movimento rotacional delas com a forma e a função de 
  • giroscópios macroscópicos. Por meio de estímulo elé-
  • trico, magnético ou luminoso, as moléculas sofrem rot a ç ã o  de  180º   t ant o  no   s ent ido  ho r á r i o  quant o   ant i-
  • -horário. O movimento ocorre por meio das ligações 
  • entre átomos de carbono, que apresentam baixa barreira energética para a rotação. Esse tipo de molécula 
  • poderia ser empregado, por exemplo, para armazenar 
  • informações (figura 3B).
  • Válvulas, portas e rolhas  Nosso grupo de pesquisa, no Instituto de Química da Universidade Federal 
  • Fluminense, desenvolveu uma nanoválvula formada por 
  • um reservatório fechado por uma porta. Nesse reservató-
  • rio, são aprisionadas moléculas de corante que podem 
  • sair de modo controlado quando a porta se abre. 
  • O nanorreservatório é formado pelo principal componente da areia, a sílica (SiO2
  • ), que, no entanto, tem, nesse caso, uma estrutura peculiar: poros alinhados paralelamente com diâmetros de 3 nanômetros (ou seja, 3 bilionésimos de metro).
  • Para a montagem da nanoválvula, primeiramente os 
  • poros da sílica foram recobertos com moléculas organometálicas (ferroceno) que servem como encaixe para a 
  • porta. Esta última é formada por outras moléculas orgâ-
  • nicas (betaciclodextrinas) cuja estrutura lembra uma 
  • O movimento de um único nanocaminhão sobre a superfície de uma folha fina de ouro foi monitorado por um
  • microscópio especial (chamado de varredura por tunelamento) que gera imagens de superfícies com resolução 
  • atômica. Ao aquecer a folha de ouro a 200
  • o
  • C, o nanocaminhão executa dois movimentos radicais: i) ergue uma 
  • de suas rodas; ii) gira duas rodas em torno do chassi (figura 2B). Contudo, o controle dos movimentos é difícil, e 
  • seus criadores vêm efetuando ajustes (modificações estruturais) para melhorar seu desempenho. 
  • O objetivo é o uso dessas nanomáquinas para o transporte de moléculas ou informações.
  • Giroscópio molecular  Você já brincou com um 
  • pião? Um giroscópio é um instrumento que executa um 
  • movimento semelhante ao desse brinquedo. É formado 
  • por um eixo e uma roda (rotor) inserida no interior de uma 
  • segunda roda perpendicular (figura 3A). 
  • Quando é aplicada uma força ao rotor, o giroscópio
  • começa a girar na direção do eixo. Assim como no pião, 
  • há também aquele ‘bamboleio’ em torno do eixo, chamado movimento de precessão. A soma dos dois movimentos 
  • Figura 3. Em A, giroscópio macroscópico executando 
  • movimento de precessão em torno de um ponto. 
  • Em B, giroscópio molecular que executa movimento 
  • em torno da ligação carbono-carbono
  • PROC. NATL. ACAD. SCI. U. S. A., 2010, 107, 14973-14977 / 2010 NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, U.S.A.Q U Í M I C A
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  • Sugestões para leitura
  • DUROT, Stéphanie; REVIRIEGO, Felipe; SAUVAGE, Jean-Pierre 
  • ‘Copper-complexed catenanes and rotaxanes in motion: 15 years of 
  • molecular machines’. Dalton Transactions, v. 39, p. 10.557, 2010. 
  • VIVES, Guillaume; TOUR, James M. ‘Synthesis of Single-Molecule Nanocars’. 
  • Accounts of Chemical Research, v. 42, p. 473, 2009. 
  • KARLEN, Steven S.; REYES, Horacio; TAYLOR, R. E.; KHAN, Saeed I.; 
  • HAWTHORNE, M. Frederick; GARCIA-GARIBAY, Miguel A. 
  • ‘Symmetry and dynamics of molecular rotors in amphidynamic 
  • molecular crystals’. Proceedings of the National Academy of Sciences  
  • U. S. A., v. 107, p. 14.973, 2010.
  • SILVEIRA, Gleiciani Q.; VARGAS, Maria D.; RONCONI, Célia M. 
  • ‘Nanoreservoir operated by ferrocenyl linker oxidation with molecular oxygen. 
  • Journal of Material Chemistry, v. 21, p. 6.034, 2011.
  • >> Revista Virtual de Química: http://bit.ly/qPrkqX
  • NA INTERNET
  • NANOMÁQUINAS E 
  • O AQUECIMENTO GLOBAL
  • A autora deste artigo, pesquisadora do Instituto de 
  • Química da Universidade Federal Fluminense, trabalha 
  • com temas ligados à fabricação e ao funcionamento de 
  • nanoválvulas, nanorreservatórios e materiais funcionais 
  • para a captura de gases que causam efeito estufa.
  • ‘rolha perfurada’. Quando a cavidade da ‘rolha’ se encaixa no ferroceno, ela fecha os poros da sílica.
  • Para abrir o nanorreservatório, usamos um combustí-
  • vel químico (oxigênio molecular, O2
  • ), bem como a mudança da acidez do meio (pH). O primeiro oxida o ferroceno – o ácido acelera esse processo. Oxidado, o ferroceno já não se encaixa mais na cavidade da ‘rolha’, que se 
  • solta, abrindo os poros da sílica. Com isso, o corante aprisionado escapa para o meio (figura 4).
  • Substituindo o corante por um medicamento, poderí amos   empr  eg ar  a  nanová lvul a  como  um c ar  r  eador 
  • de drogas para tumores malignos ou tecidos com inflama-
  • ção. O fármaco seria liberado só na região doente, com a 
  • alteração do pH do meio – sabe-se que tumores malignos e tecidos com inflamação são levemente ácidos.
  • Arsenal nos laboratórios  Diversos laboratórios 
  • de pesquisa no mundo já contam com um arsenal de nanomáquinas fascinantes. Os exemplos apresentados 
  • aqui mostram enorme sofisticação em relação à estrutura e ao funcionamento desses nanodispositivos, que só 
  • foram construídos graças às técnicas químicas que permitem arquitetar estruturas cada vez mais complexas. 
  • Além disso, o avanço nas técnicas de identificação das 
  • formas dessas nanomáquinas permitiu investigar de maneira detalhada o funcionamento desses sistemas. O objetivo maior é o uso das nanomáquinas para executar 
  • tarefas na área médica, ambiental e farmacêutica. 
  • Muitas limitações precisam ser resolvidas. Mas a solução para isso é simples: pesquisar. 
fonte: http://www.moodle.sead.furg.br/file.php/1610/Nanociencias/Bibliografia_Nanociencias/nanomaquinas284_1_.pdf

A Nanomedicina em nossas vidas

http://www.moodle.sead.furg.br/file.php/1610/Medicina/Nanomedicina.pdf

Incentivo a pesquisa e cursos de formação


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