domingo, 14 de outubro de 2012

As causas da queda do Muro de Berlim...


A queda do Muro de Berlim. Reflexões vinte anos depois


Lenina Pomeranz
Professora associada, livre-docente da FEA-USP, pesquisadora visitante do IEA-USP e membro do Conselho Acadêmico do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional do Instituto de Relações Internacionais da USP.


A queda do Muro de Berlim ocorreu há vinte anos, cercada de simbolismos; mas, a não ser por vozes isoladas, não se questiona o que veio depois dela.
O primeiro desses simbolismos está associado à ideia de liberdade. Caído o muro, não só se reuniriam as famílias alemãs, por ele arbitrariamente separadas, mas se teriam eliminado ao mesmo tempo todos os obstáculos à livre circulação das pessoas, dando aos homens a possibilidade de ir e vir quando lhes aprouvesse. O muro, entretanto, representando a falta de liberdade própria dos regimes do socialismo real, deixou de ser associado a esses regimes para tornar-se, atualmente, objeto concreto e virtual da discriminação resultante das desigualdades sociais, da separação dos pobres e deserdados do mundo capitalista. Temos muros de concreto separando os palestinos que buscam trabalho em Israel, mexicanos que buscam trabalho nos EUA e brasileiros favelados no Rio de Janeiro que expandem seus barracos. Os argumentos são variados - terrorismo, narcotráfico, meio ambiente -, mas, conquanto possam expressar problemas efetivamente existentes, objetivamente os muros barram pessoas que buscam uma vida melhor na parte desenvolvida do planeta. Não menos obstáculo à liberdade de ir e vir são a política anti-imigratória da União Europeia, que deporta africanos que arriscam suas vidas para ali aportar, e as veladas restrições ao movimento dos emigrantes dos países do Leste Europeu, recém-ingressados na comunidade europeia. São os muros virtuais.
O segundo simbolismo está associado ao fim do socialismo real, ao que seria uma vitória do capitalismo sobre o socialismo, no que se convencionou chamar, durante o período Khrushev na URSS, de concorrência pacífica entre os dois sistemas. Convenção, naturalmente, porque essa concorrência não foi nada pacífica, desde o surgimento do Estado socialista. De todo modo, a queda do muro representou de fato, e não só simbolicamente, o marco inicial da derrocada do sistema do socialismo real, podendo ser incluída na avalanche que se abateu no Leste Europeu no final da década de 80, e à qual se sucedeu o desmoronamento da URSS, em dezembro de 1991.
São ainda bastante controvertidas as discussões sobre o porquê de a experiência de construção de um sistema alternativo ao capitalismo ter terminado, depois de décadas de funcionamento. E não propriamente nos países europeus do Leste, onde sua implantação se deu, de forma impositiva, como resultado da Segunda Guerra Mundial, mas na URSS, onde sua implantação se deu como resultado da Revolução de Outubro e cujo modelo foi reproduzido nos referidos países. Há que se fazer, nesse sentido, considerações e reflexões sobre o tema, sem que elas sejam reduzidas de maneira simplista aos embates da Guerra Fria. O colapso do socialismo real precisa ser entendido em sua complexidade, envolvendo fatores relacionados com sua configuração e seu modo de funcionamento, mas também com fatores externos, relacionados com a oposição à sua existência e à sua influência sobre o resto da humanidade.

Veja através deste link e discuta esta ideia...

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103-99892010000100003&script=sci_arttext

http://www.youtube.com/watch?v=efT09LZKyss

http://www.youtube.com/watch?v=3-7UeIUSdIo