terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Estudo de Currículos e as Políticas Públicas ...

O ESTUDO DE CURRÍCULOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
OS VESTÍGIOS DE INVESTIGAÇÕES  SOBRE CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
                                                      JOSENILDA MAUÉS

Os argumentos pós-estruturalistas ressaltam que  a linguagem que utilizamos para nomear  os diferentes textos produzidos não apenas correspondem a imagens e vocábulos, não apenas os intitulam mas, ao dizê-los, participam da fabricação do próprio texto e das realidades em que cuja  constituição encontram-se envolvidas.
Quando falamos de vestígio, falamos de trajetória de investigação, e investigação significa que o processo de pesquisar  desenvolve-se através de pistas e cada pista é representada por um interrogativo. Assim como espaços dinâmicos , campos de conhecimentos nas específicas e interrogações, nos tempos epistemologicamente e paradigmaticamente convulsivos em que nos encontramos.
Uma compreensão de currículo também como um ambiente simbólico que envolve preocupações  técnicas ,éticas, políticas e estéticas e que deve conectar preocupações estéticas com produção pessoal de sentido, investindo na recuperação da sensibilidade estética dos sujeitos.
Currículos e a formação de professores, partindo de estudos já existentes e que põem em evidencia os nexos e as intersecções entre esses dois campos de conhecimentos e práticas – o currículo e a formação de professores considerando a recorrente referencia  á prática e a formação docente nos estudos que tomam o currículo como objeto de atenção.
Uma retomada dos estudos que realizam mapeamento do campo permitem-nos identificar a diversidade das tendências teóricas, metodológicas  e temáticas que o pontuam e que deixam entrevê-lo também como um campo contestado, como o são os currículos como práticas sociais, vividas cotidianamente.
O entendimento de que currículo é politica cultural por percebê-lo envolvido também na construção de significados e valores culturais que não se situam no nível da consciência pessoal ou individual. Eles estão  estreitamente ligados a relações sociais de poder e desigualdade. Trata-se de significados, disputas, que são impostas, mas também  contestados.
Ao recorremos ao conhecimento científico, essa busca nos remete a uma nova versão da ciência, mais interativa, mais complexa, indeterminada, e para a necessidade de interlocução com diferentes campos de conhecimento.
Curriculo é como um campo de prática social de recriação cultural que esta presente  em nosso espaço de força e fragilidade nesse dialogo.
A grande atenção que as politicas publicas destinam ás reformas curriculares indica-nos que essa não é uma escolha inocente, aleatória, mas que se baseia na identificação de currículo como prática social privilegiada no processo de construção de identidade e subjetividades apropriadas para determinadas exigências e projetos.
Entretanto, fazer ciência ,a partir  desse diálogo, supõe fundamentalmente o enfrentamento dos desafios das distinções entre objetividade e intepretação, porque também “a razão e a ciência” só podem ser entendida como parte de uma luta histórica, politica e social mais ampla pelo relacionamento entre linguagem e poder ( GIROUX, 1999, p. 68).
Após, essa análise sobre currículos, O Paulo Freire deixa uma síntese que enfoca o aspecto de currículos e a pratica educativa dos educadores.

Uma reflexão para a prática educativa em Paulo Freire

Antes de anunciar a presença de Paulo Freire como educador faz-se necessário contextualizá-lo como homem. Diga-se um “percebedor” da realidade por sua condição de pobre, nordestino e brasileiro. Sua luta e presença baseiam-se na categoria “opressão”, principalmente, por ter sido um homem que fez uma leitura concreta do mundo do oprimido, da complexidade da relação oprimido e  opressor, para, finalmente, propor uma pedagogia libertadora que consiste em uma educação voltada para a conscientização da opressão (pedagogia do oprimido) e a conseqüente ação transformadora.
Segundo Andreolla (1997), a categoria “opressão” em Paulo Freire assume dimensões várias. A saber, na dimensão antropológica, mata a cultura do homem, o seu saber enquanto homem (nas palavras de Boaventura Santos, um “epistemicídio”: matar o conhecimento do outro); na dimensão psicológica derruba com o “ser”, o “eu” do homem, permitindo como conseqüência sua coisificação e ou despersonalização; na dimensão ontológica está paralelo à desumanização, enquanto “ser homem” (processo de hominização x cultura necrófila); na dimensãoeconômica,  a opressão permite que ricos estejam cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. A ideologia do “ter mais” se concretiza na relação dominador e dominado;  na dimensão política há desenfreadamente a ação do poder central sobre a periferia, isto é, ou são leis que beneficiam e privilegiam alguns, ou são “Medidas provisórias” que retratam um poder autoritário que é cego às necessidades e prioridades de uma grande maioria; e por último a dimensão pedagógica cujo caráter de opressão se estabelece na forma de leis que na prática retrocedem às conquistas e desejos de toda comunidade educativa e também na forma de relação professor e aluno e todas as nuances do sistema de ensino (currículo, prática pedagógica e avaliação). Nestas dimensões a obra, e a vida de Paulo Freire dão uma resposta, apontando caminhos: Ao tratar da pedagogia da “consciência” pretendeu elucidar do educando sua criticidade, criatividade e ação diante do que está dado: é preciso que o oprimido tenha consciência de sua opressão (pedagogia do oprimido). Ao tratar da pedagogia da “pergunta” ele torna-se um sociólogo da sala de aula e reflete a relação professor e aluno enquanto concepção bancária x concepção libertadora, onde o primeiro (como num banco) deposita conhecimentos através da transmissão apenas no segundo e, este o armazena e devolve na prova final.
“O educador faz “depósitos” de conteúdos que devem ser arquivados pelos educandos. Desta maneira a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. O educador será tanto melhor educador quanto mais conseguir “depositar” nos educandos. Os educandos,  por sua vez, serão tanto melhores educados, quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos. (Freire, 1983:66)”
Prova, tão logo, que através da “problematização” da realidade, da significação é possível desenvolver uma concepção libertadora na relação professor e aluno e conhecimento e aprendizagem.
“Como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível, em lugar de ser o término do ato cognoscente de um sujeito, é mediatizador de sujeitos cognoscentes, educador, de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador  x educando. Sem esta, não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível.” (Freire, 1983:78)
 Entre educador e educandos não há mais uma relação de verticalidade, em que um é o sujeito e o outro objeto. Agora a pedagogia é dialógica, pois ambos são sujeitos do ato cognoscente. É o “aprender ensinando e o ensinar aprendendo”. O diálogo, em Freire, exige um pensar verdadeiro, um pensar crítico. Este não dicotomiza homens e mundo, mas os vê em contínua interação. Como seres inacabados, os homens se fazem e refazem na interação com mundo, objeto de sua práxis transformadora. (Boufleuer, 1991) A prática pedagógica passa a ser uma ação política de troca de concretudes e de transformação.
O que Paulo Freire nos ensina hoje é colocar em prática uma lição que sabemos de cor. Afinal, os cursos de formação de professores tomam conhecimento de sua proposta. Vários estudos e publicações têm mostrado que a proposta de Paulo Freire perpassa tanto o ensino formal como o informal.
Nas análises de currículo, prática pedagógica e avaliação, em nossas escolas, percebe-se uma aplicabilidade de sua proposta. Ou seja, quando analisamos sobre os conteúdos  serem interdisciplinares (politécnicos), fragmentários; quando abordamos a necessidade de união entre teoria e prática enquanto metodologia; e, ainda a democracia enquanto gestão, nós nos damos conta da pedagogia problematizadora de Paulo Freire.
A lição maior como educadores que temos de Freire é a preocupação com o social. A busca de alternativas e propostas devem ser uma constante em nosso dia a dia, no sentido de resgatar o “homem”, o “cidadão” e o “trabalhador” da alienação de seu “ser”, de seu exercício de cidadania e de sua dignidade.
Ainda, como homem de seu tempo, devemos aprender de Freire, a ter presente o nosso tempo sem alienação do real. As proposta pedagógicas devem ser alternativas de “hominização” em contraposição ao processo de relações econômicas, que se definem em alienação do homem e expropriação de seu saber. Segundo Marx (1968), em O Capital, com a venda da força de trabalho, o trabalhador é considerado igual a uma mercadoria, é coisificado na relação de produção, é “apropriado” pelo capital. As relações de produção passam pelos critérios  do capital e não pelos critérios da humanidade. A mercadoria encobre as características sociais do próprio trabalho dos homens. Fernandes explica assim este fetichismo da mercadoria:
“(...)...quanto mais o trabalhador se apropria do mundo exterior, da natureza sensorial, através do seu trabalho, tanto mais ele se priva de meios de vida segundo um duplo aspecto; primeiro que cada vez mais o mundo exterior sensorial cessa de ser um objeto pertencente ao seu trabalho, um meio de vida do seu trabalho; segundo, que cada vez mais cessa de ser meio de vida no sentido imediato, meio para  a subsistência física do trabalhador. (...) apenas como sujeito físico ele é trabalhador.” (Fernandes, 1989)
Finalizando, as categorias diálogo, oprimido, problematização, conscientização, libertação definem o homem político em Paulo Freire. Ou seja:
1.     Sua proposta vai além das críticas das formas educativas atuais, porque define-se em uma pedagogia da consciência: consciência crítica enquanto conhecimento e práxis de classe.
2.     Na escola formal, a pedagogia de Paulo Freire requer um professor problematizador da realidade, pois trata-se da pedagogia da pergunta que requer diretividade.
3.     Através de uma relação dialógica e dialética entre professor e aluno, a proposta pedagógica de Freire, centraliza-se na dimensão do conhecimento, no sentimento de aceitação do outro, da interação, da intersubjetividade.
4.     A revolução necessária para a transformação social que não considera o amor, apenas substituirá o opressor – o oprimido passa a ser o opressor – que continuará a mesma lógica da dominação.
5.     A revolução deve ser entendida como um processo, uma mudança democrática e não apenas como uma ruptura. A revolução é um processo político pedagógico de transformação, que requer reconstrução do poder em novas formas de relação. “A revolução que deve ocorrer é uma grande ação cultural para a liberdade, realizada pelo povo (Freire, 1977).”
6.     A pedagogia do oprimido tem por base o diálogo, necessidade ontológica do ser humano.
7.     Ser utópico, também, é uma exigência ontológica do ser humano, uma exigência histórica.
Esta foi sua luta e, é esta a sua lição são qual em todos os momentos nos são necessários os seus usos e efeitos nesta historia dependentes do equilíbrio das forças em cada nação e das maneiras que tendências progressistas foram instituídas em cada estado.

A Importância das Interações Sociais na Educação Infantil...

A IMPORTÂNCIA DAS INTERAÇÕES SOCIAIS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: UM CAMINHO PARA
COMPREENDER O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Sílvia Mara da Silva*
Maria Angélica Olivo Francisco Lucas**

Introdução

Este texto é resultado do trabalho desenvolvido ao longo da
disciplina Prática de Ensino em Educação Infantil do 4º ano do Curso de
Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, no ano letivo de 2002. As
atividades desta disciplina iniciaram com a inserção dos acadêmicos no
campo de estágio – Centros Municipais de Educação Infantil, através de
observação e participação das atividades desenvolvidas nestas instituições,
com o objetivo de conhecer sua estrutura e organização pedagógica. Esta
prática possibilitou o levantamento de uma questão (problema de pesquisa)
a ser estudada. Nas observações realizadas, nos instigou uma prática
bastante comum em instituições educativas que trabalham com crianças de
0 a 6 anos: a realização das atividades em mesas quadradas que
comportam 4 crianças.
A princípio, tínhamos a idéia de que o motivo das crianças estarem
assim distribuídas para trabalhar era conhecido, fazendo parte do senso
comum dos profissionais que atuam com esta faixa etária. No entanto, as
observações realizadas foram nos revelando que aquilo que parecia óbvio
havia se tornado uma prática institucionalizada, ou seja, feita por todos e
repetida sem que se tivesse consciência do porquê. Podemos fazer tal
afirmação por que muitas vezes esta disposição permitia que as crianças
estivessem apenas fisicamente próximas, mas não possibilitava que a
interação entre elas realmente se estabelecesse. Era comum ouvirmos:
“Cada um faz o seu!” “Não atrapalhe o coleguinha!” Apesar disto,
percebíamos que uma relativa interação entre as crianças acontecia, pois
um pedia para o outro o lápis de uma determinada cor, perguntava como
fazia florzinha “daquele jeito”, admiravam o desenho dos colegas. Além
disso, foi possível observar que, geralmente, o critério utilizado para formar
os quartetos estava relacionado ao comportamento das crianças e não a
possibilidade de enriquecer as interações. Outro fato observado foi que,
* Pedagoga – UEM e Terapeuta do CEADI – Santa Terezinha – Maringá-PR.
** Profa. do DTP – UEM. Mestre em Educação.
embora as atividades fossem realizadas em grupo, havia uma relativa
dificuldade dos professores em integrar os membros do grupo.
Dois caminhos foram percorridos com o objetivo de encontrar
respostas a estas questões que tanto nos instigaram. Primeiramente, foi
elaborado um projeto de pesquisa que foi desenvolvido, no decorrer do ano
letivo e no desenrolar das demais atividades da disciplina Prática de Ensino
em Educação Infantil, cujos resultados estão aqui apresentados. Num
segundo momento, uma oficina pedagógica de modelagem foi planejada e
desenvolvida com o objetivo de promover uma atividade significativa para
crianças de diferentes faixas etárias, que propiciasse uma troca efetiva de
informações e interações.

A Importância das Interações Sociais

Neste trabalho, nos propomos a pensar sobre a importância das
interações sociais no trabalho de cuidar e educar as crianças de 0 a 6 anos
que ficam em instituições para este fim tendo como referencial os
pressupostos básicos da teoria histórico-cultural, aqui representada pelo
pensamento de Vygotsky (1896–1934). A discussão dessa teoria nos
remete a constituição do ser humano que implica no relacionamento com o
outro, uma vez que são as interações sociais que fornecem a matéria-prima
para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
Oliveira (1997, p. 10) afirma que este desenvolvimento constitui-se
um processo de transformação, pois “primeiramente o indivíduo realiza
ações externas que serão interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de
acordo com os significados culturalmente estabelecidos à suas próprias
ações e assim desenvolve os seus processos psicológicos internos”. Este
processo foi denominado por Vygotsky como internalização, ou seja,
reconstrução interna de uma operação externa.
Vygotsky (1989, p.64) assevera-nos que “todas as funções no
desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social,
e, depois, no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e,
depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Para ele, as origens da vida
consciente e do pensamento abstrato deveriam ser procuradas na interação
do organismo com as condições de vida social e nas formas históricosociais
da espécie humana, procurando analisar o reflexo do mundo exterior
no mundo interior dos indivíduos, a partir da interação destes sujeitos com a
realidade.
A concepção vygotskyana tem como princípio a dimensão sóciohistórica
do psiquismo onde, o pensamento é construído aos poucos. Esta
abordagem procura explicar o desenvolvimento humano considerando a
história. “O objetivo central desta teoria é caracterizar aspectos tipicamente
humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas
características se formam ao longo da história humana e como se
desenvolvem durante a vida do indivíduo”, afirma Vygotsky, (1995, p. 38).
Assim, ao mesmo tempo em que o homem transforma o seu meio, ele
transforma a si mesmo. Portanto, o desenvolvimento humano ocorre através
de trocas recíprocas entre o indivíduo e o meio, influindo um sobre o outro,
continuamente.
Segundo a abordagem histórico-cultural a criança nasce em um
mundo humano e aos poucos vai se adequando aos objetivos e fenômenos
de seu meio cultural1. Segundo Fontana e Cruz (1997, p. 57), “seus modos
de perceber, representar, se explicar e de atuar sobre o meio, seus
sentimentos em relação ao mundo, ao outro e a si mesmo, enfim, seu
mundo psicológico, vão se constituindo nas suas relações sociais”. Desde o
nascimento da criança ocorre um processo de interação com os adultos que
compartilham com ela o seu modo de viver. Existe, portanto, uma contínua
interação entre as condições sócio-culturais e a base biológica do
comportamento humano. Por esta razão, para Vygotsky, não existe uma
seqüência universal de estágios cognitivos. É a interação do indivíduo com
o meio a característica definidora da constituição humana. Esta constituição
depende do desenvolvimento de funções mentais superiores que são
“mecanismos intencionais, ações conscientes controladas, processos
voluntários que dão ao indivíduo a possibilidade de independência em
relação às características do momento e espaço presente” (Rego, 1994, p.
39).
A teoria vygotskyana considera que para compreender o
desenvolvimento é necessário partir daquilo que a criança consegue realizar
sozinha. Isto é denominado de nível de desenvolvimento real, ou seja,
capacidade de realizar as atividades sem ajuda de outro. Oliveira (1997,
p.59) afirma que o “nível de desenvolvimento real da criança caracteriza o
desenvolvimento de forma retrospectiva, ou seja, se refere-se as etapas já
conquistadas pela criança”. O nível de desenvolvimento potencial se refere
a capacidade da criança desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou
companheiros mais capazes. O conceito de “zona de desenvolvimento
proximal (ZDP), refere-se a distância entre aquilo que a criança é capaz de
fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ela
realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social”.
(Rego, 1997, p. 73).
É na zona de desenvolvimento proximal que as funções
psicológicas amadurecem para se consolidar em seu nível de
desenvolvimento real. São os adultos e as crianças mais experientes que
colaboram para que este processo de maturação ocorra. É possível afirmar
que o desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado que
1 Os fenômenos de seu meio cultural aqui são entendidos como seus modos de
perceber, representar, explicar-se e de atuar sobre o meio, seus sentimentos em
relação ao mundo, ao outro e a si mesmo.
realiza num determinado grupo cultural. Por isso, a mediação como
processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação
constitui um elemento fundamental para o processo de desenvolvimento.
Em outras palavras: ela é o instrumento que promove o aprendizado e
impulsiona o desenvolvimento humano. Esta possibilidade de alteração do
desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é um dos
pressupostos fundamentais da teoria vygotskyana.

A Mediação no Processo de Ensino-Aprendizagem

Os centros de educação infantil são por excelência o local onde a
vida coletiva favorece as interações em grupo, pois são ambientes que
recebem, constantemente, influências das condições sócio-culturais,
determinantes do processo de aprendizagem e desenvolvimento das
crianças. Nas palavras de Abramowiz (1995, p. 39): “A creche é um espaço
de socialização de vivências e interações”. Neste espaço as interações
traduzem-se por atividades diárias que as crianças realizam com a
companhia de outras crianças sob a orientação de um professor. A partir da
compreensão de que estas situações contribuem para o processo de
aprendizagem e desenvolvimento infantil, é possível o professor e demais
profissionais da Educação Infantil redimensionar a sua prática pedagógica e
re-significar o papel da interação na educação infantil.
Ao apresentar os pressupostos vygotskyanos do processo ensinoaprendizagem,
é nossa intenção destacar a importância de valorizar a
mediação neste processo, e trazer reflexões para a prática dos professores
que atuam na Educação Infantil. Diante das premissas básicas
apresentadas acima, o papel do professor muda radicalmente, pois o coloca
além do centro do processo, como aquele que ensina enquanto as crianças
aprendem passivamente; e além da postura de aguardar que as crianças
digam o que, como e quando querem aprender. Ao contrário, de acordo
com a perspectiva aqui defendida, o professor torna-se o agente mediador
do processo de ensino-aprendizagem, propondo desafios às crianças a
orientando-as a resolvê-los. Assim, por meio de intervenções, o professor
pode contribuir para o fortalecimento de funções que ainda não estão
consolidadas, e para o desenvolvimento de outras. Este processo torna-se
mais rico, sobretudo na Educação Infantil, quando são proporcionadas
atividades grupais, em que os alunos mais adiantados poderão cooperar
com os demais.
Esta concepção rompe com a idéia de que o aluno deve descobrir
sozinho as respostas, e principalmente que a aprendizagem é uma
atividade individual e independente do grupo cultural. A aprendizagem
escolar implica uma constante reorganização de experiências, por isso é
importante que o professor tenha domínio do quanto a criança ainda
necessita para chegar a produzir determinadas atividades com autonomia.
O professor poderá avaliar não apenas as aquisições conceituais por parte
das crianças, mas também o nível e o tipo de interação que ele, como
membro mais experiente do grupo está proporcionando ao desenvolver o
trabalho pedagógico.

Amassando, Modelando e Interagindo: Relato de uma Experiência

O plano de trabalho da disciplina Prática de Ensino em Educação
Infantil previa a organização de uma oficina pedagógica para a qual tivemos
liberdade de escolher o tema a ser desenvolvido: modelagem com argila.
Nosso objetivo foi desenvolver um trabalho de modelagem tendo como
referência os estudos que estávamos realizando no projeto de pesquisa. O
critério utilizado para tal escolha foi a possibilidade de promover interações
por meio de uma atividade significativa tanto para as crianças menores (2 a
3 anos), quanto para as maiores (5-6 anos).
Para tanto, foi necessário planejar diversas intervenções que
atendessem à diferença de idade das diferentes turmas, uma de cada vez.
As crianças eram acomodas em bancos colocados sobre longas mesas de
forma que cada uma estivesse sempre ladeada e a frente de outras,. Isso
facilitou a troca de informações que as vezes acontecia de forma verbal, e
outras vezes apenas por meio da observação do que o outro estava
fazendo com seu pedaço de argila.
Para a maioria das crianças, esta era a primeira vez que
“brincavam” com argila. Em quase todas as turmas, foi necessário explicar o
que era argila, para que ela servia, em que era utilizada. Algumas crianças
afirmavam: “É igual barro!” Outras, a princípio apresentaram um pouco de
receio em “mexer” na argila, trabalhando com as pontinhas dos dedos,
havendo até quem perguntasse se era “cocô”. Após amassarem e
modelarem o que desejavam, e conversarem com os colegas vizinhos sobre
o que estavam fazendo, cada criança colocou seu trabalho numa bandeja
feita de caixa de leite com uma etiqueta com seu nome. Por fim, os
trabalhos de todas as turmas ficaram expostos para que os demais
pudessem verificar o que os outros fizeram com argila.
A elaboração deste trabalho possibilitou a reflexão e a ampliação de
nossos conhecimentos sobre a possibilidade de desenvolver atividades
significativas com crianças de 0 a 6 anos em instituições educativas com o
objetivo de promover interações aluno-aluno e aluno-professor.
Pode-se afirmar que a vivência com outras crianças e adultos nos
centros de educação infantil, é importante para o desenvolvimento infantil,
pois provoca novas experiências, permite adquirir novos hábitos, atitudes,
valores e também a linguagem daqueles que interagem com a criança. É
desta forma que os seres humanos se integram na história e na cultura de
uma determinada forma de organização social.
Ficou claro que promover interações é muito mais do que aproximar
fisicamente as crianças e que a disposição das carteiras, mesas e cadeiras
é apenas uma condição que pode facilitar tal tarefa. Muito mais do que a
organização do ambiente, é necessário que o professor e demais
profissionais que atuam na educação infantil conheçam as premissas
básicas da teoria histórico-cultural sobre o processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças, e em razão disso, se reconheçam como os
membros mais experientes de um grupo cujas funções são a promoção de
interações e a mediação do conhecimento.
Referências
ABRAMOWIZ, A. e WAGKOP, G. Creche: atividades para crianças de zero a seis
anos. São Paulo: Moderna, 1995.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sóciohistórico.
São Paulo: Scipione, 1993.
REGO, T.C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Rio de
Janeiro: Vozes, 1995.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes,
1988.