quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Busca pela Produção e a Terra...

A luta por terra no Brasil e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra 

Leonilde Servolo de Medeiros:

Para refletir sobre as lutas por terra no Brasil contemporâneo é preciso levar em 
consideração o fato de que ela, sob diversas formas, percorreu nossa história e está 
subjacente a vários processos sociais e políticos que marcaram a nossa formação. Os 
exemplos se multiplicam no tempo e no espaço: lutas dos indígenas para preservação de 
suas áreas, frente à ação dos colonizadores; ocupação de terras por posseiros, desde a 
colonização, em busca de áreas para plantar; formação de quilombos por escravos que 
fugiam às condições do cativeiro; luta pelo acesso à terra para cultivo de alimentos por 
trabalhadores que viviam do trabalho em fazendas, como demonstra a literatura sobre a 
expansão da cafeicultura e as demandas dos “colonos do café”; a enorme afluência de 
famílias ao chamado do governo getulista, ainda do Estado Novo, para uma “marcha para o 
oeste”; as resistências de posseiros, em todos os tempos e lugares, à tentativa de sua 
expulsão da terra, seja pela especulação imobiliária urbana (como ocorreu no Rio de 
Janeiro, nos anos 1950), seja pela frente de expansão agrícola; as organizações de 
lavradores dos anos 1950/1960, em associações civis, suas diversas e criativas formas de 
resistências; a emergências das Ligas Camponesas etc. Esses são apenas fatos pontuais que 
podem ilustrar esse lado, por vezes esquecido, de nossa história. A ele deve se agregar uma 
outra dimensão que é a intensa repressão que a maior parte dessas ações sofreram. A ação 
dos “capitães do mato”, em busca de indígenas “rebeldes” ou de negros fugidos, que se 
negavam ao trabalho compulsório; a violência do poder privado sobre as populações do 
campo, sempre que elas, de alguma forma, negavam-se a se subordinar; a atuação do 
Exército na repressão aos seguidores de Conselheiro ou dos rebeldes do Contestado; a 
repressão policial às resistências de posseiros ocorridas em Porecatu, Formoso, ou de 
“foreiros” em Pernambuco e Paraíba, são indicativos de como a demanda por terra sempre 
foi tratada. Paralelamente, constituiu-se uma visão de mundo que recusava a possibilidade 
de organização e voz não só aos trabalhadores do campo, como também aos da cidade. 
Lembremos que, até os anos 30, a “questão operária” era lida como questão de polícia, ou 
seja, negada enquanto possibilidade de organização e ação na busca por direitos que 
diversos países do mundo já haviam consagrado. 
Nas três últimas décadas, acampamentos e ocupações de terra tornaram-se uma 
constante no Brasil, constituindo-se na forma por excelência da luta por terra. Essas ações 
vêm demonstrando a continuidade e a amplitude da questão fundiária em nosso país, num 
contexto que também é marcado pela intensa modernização tecnológica das atividades 
agropecuárias e pela urbanização acelerada. Na sua articulação, destaca-se o papel do 
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que tem marcado sua presença 
quer pela afirmação da importância da reforma agrária, quer pelo esforço de retirar esse 
Professora do Curso de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesquisadora do CNPq e bolsista do Programa Cientistas do 
Nosso Estado da Faperj (2003/2008). Leonilde Servolo de Medeiros, A luta pela terra no Brasil, março de 2009
tema dos quadros estritos do meio rural e da questão fundiária, mostrando suas articulações 
com opções políticas nacionais, projetos de nação e modelos de desenvolvimento. Mas não 
apenas o MST promove acampamentos e ocupações. Nelas passaram a investir, desde os 
anos 90, algumas federações de trabalhadores da agricultura ligadas à estrutura sindical da 
Contag e, mais recentemente, sindicatos ligados à Fetraf. Surgiram também inúmeros 
“movimentos”, de caráter mais localizado, que fizeram dos acampamentos e ocupações as 
formas por excelência de luta. Sigaud (2000) usa a expressão “forma acampamento” para 
dar conta dessa proliferação de ações e indicar como, por meio dessa “forma”, as 
populações envolvidas acabam publicizando suas demandas. Na mesma lógica, Rosa 
(2004) fala na “forma movimento”. ..


Veja aqui alguns links para aprimorar suas buscas e pesquisas.
http://www.mst.org.br/

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