terça-feira, 21 de junho de 2011

COMENTÁRIOS POLÍTICOS - WLADIMIR POMAR - DANIEL DAMIANI PARA ELZAMIR

 Comentários Políticos – Wladimir Pomar – 07/06/2001
> Luta de classes
> 
> Há muita gente na esquerda que supõe finada a existência e a
> contradição entre as classes sociais, Essa contradição, que inclui
> unidade e luta, não seria mais o motor do desenvolvimento social. Este
> ocorreria porque os interesses nacionais sobrepujariam os interesses
> grupais e individuais e fariam com que todos, ou quase todos, agissem
> em apoio aos objetivos nacionais comuns.
> Outros pensam que a luta de classes ainda está presente, mas se
> restringiria ao terreno econômico dos salários, abonos, horas extras,
> redução da carga de trabalho e assuntos afins. Tal luta, como a dos
> bombeiros do Rio, também deveria subordinar-se aos interesses
> nacionais do desenvolvimento do país.
> Com isso, uns e outros parecem não distinguir os interesses que
> diferenciam os grupos sociais e os fazem se constituíres como classes.
> Interesses, diga-se de passagem, que, às vezes, se confrontam com os
> interesses nacionais. Portanto, não reconhecem a disputa e a
> colaboração entre as classes nos mais diversos campos da sociedade.
> Nem classificam os políticos, parlamentares, lobistas, jornalistas e
> outras expressões sociais e profissionais como representantes
> contraditórios de interesses de classe.
> A partir daí, não enxergam luta de classes na resistência parlamentar
> e social às políticas de redistribuição de renda. A raiva de setores
> da classe média, ao viajarem em aviões com inúmeros passageiros de
> primeiro voo, oriundos da mal classificada classe C, não passaria de
> inveja ou ignorância, e não do preconceito de classe.
> A partir daí, também não entenderam por que parte do PMDB manobrou
> para atender aos interesses dos grandes capitalistas agrários na
> votação do Código Florestal. Nem se deram conta de que os interesses
> dos pequenos agricultores foram mergulhados no esquecimento, parecendo
> fazer parte dos interesses do capital agrário. Sem uma clara distinção
> de classe, e dos interesses realmente em disputa, alguns parlamentares
> erigiram os interesses nacionais de colaboração entre todas as
> classes, sequer notando que os grandes capitais agrícolas não estão
> nem aí para a Nação.
> O mesmo diz respeito à perplexidade de alguns petistas quando, ao se
> tornarem empresários e utilizarem os métodos legais e extra-legais
> comuns à prática de negócios da burguesia, se vêem atacados pela
> hipocrisia generalizada dos representantes dessa classe social no
> parlamento, na imprensa e em outras áreas políticas e sociais.
> Apesar de haverem demonstrado seu desejo de colaboração de classe, e
> de fazerem nada mais do que todos os representantes da burguesia
> sempre fizeram, não entendem por que estão sendo atacados e colocados
> no centro da luta de classes real. Esquecem que, formalmente,
> continuam representando o partido que se declara, explicitamente,
> contra tudo isso. E que sua colaboração com uma parte da burguesia
> parecerá, à burguesia como um todo, sempre, como uma tática para
> comê-la pelas bordas.
> Mesmo porque, disso a burguesia entende. A própria parte da burguesia
> que se viu obrigada a aliar-se ao PT, diante da disputa de poder
> contra outros setores da burguesia, pratica essa tática o tempo todo,
> na expectativa de enfraquecer e subordinar o PT a seus próprios
> interesses. E a parte da burguesia na oposição está sempre alerta e
> pronta para aproveitar qualquer deslize, real ou fictício, que
> petistas, no governo ou fora dele, pratiquem. Isso, independentemente
> de toda a burguesia praticar, sem remorsos, os mesmos deslizes que
> acusa desabrida e hipocritamente nos outros.
> No império romano de César, não bastava sua mulher ser honesta. Ela
> também deveria parecer sempre honesta. Na república formalmente
> democrática do Brasil, não basta aos petistas parecerem honestos. Eles
> precisam ser honestos e terem a capacidade de comprovar que são
> honestos, embora a lei predisponha que ao acusador cabe o ônus da
> prova. O que, de cara, impede qualquer petista no governo de praticar
> os mesmos métodos de negócio praticados normalmente pelos membros da
> burguesia.
> Diante das crises passadas e da atual, talvez tenha chegado o momento
> do PT retomar o conceito da luta de classes como parte da realidade e
> tirar daí todas as consequências. Sua perspectiva de se manter à
> frente do governo para, pelo menos, implantar as reformas democráticas
> e sociais demandadas pela maior parte da sociedade brasileira, depende
> dos petistas não abrirem flancos para os ataques dos representantes
> burgueses.
> A aliança com uma parte da burguesia continua sendo indispensável para
> derrotar os setores mais reacionários e inimigos principais do povo
> brasileiro. Mas a esquerda não pode confundir seus métodos com os
> métodos da burguesia, seja aliada ou não. O grande esforço atual da
> direita burguesa consiste em fazer o povo acreditar que os métodos do
> PT não diferem em nada dos métodos dos seus representantes, tema que
> já esteve presente com muita força na última campanha eleitoral. Se
> conseguirem sucesso nesse convencimento, terão dado o primeiro passo
> sério para retirar o PT e a esquerda do governo.

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